"The Washington Post" é vendido para continuar fazendo jornalismo
Marc Arcas.
Washington, 6 ago (EFE).- O surpreendente, e inesperado, anúncio da venda do "The Washington Post" para o dono do grupo Amazon, Jeff Bezos, escava as incertezas sobre o futuro da indústria jornalística, apesar de haver quem veja neste tipo de operação a maior garantia possível para a sobrevivência do jornalismo.
O prestigiado jornal, que liderou a investigação do caso Watergate, que provocou a renúncia do presidente Richard Nixon, chega às mãos do presidente e fundador da gigante Amazon por US$ 250 milhões, e depois de ver sua renda cair 44% nos últimos seis anos.
"O jornal continuará motivado por seus leitores e não pelos interesses privados de seus proprietários", afirmou o próprio Bezos em uma carta dirigida aos milhares de empregados do "Post", em uma tentativa de diminuir a inquietação e dissipar os temores de uma grande mudança após 80 anos de propriedade familiar do veículo pelos Graham.
O principal receio dos jornalistas é a incógnita sobre o objetivo do milionário Bezos em investir em um negócio deficitário como o "Post". O analista Ken Doctor, do portal "Newsonomics" tem uma resposta para essas elucubrações que conta com o respaldo de outros especialistas.
"O gasto com a compra do jornal representa menos de 1% da fortuna pessoal de Bezos. Os meios de comunicação constituem uma parte integral de qualquer democracia, e esta crença é muito difundida entre os ricos", apontou Doctor, aludindo a um hipotético caráter filantrópico da operação.
Doctor não é o único que aponta nesta direção. A diretora do Centro Tow de Jornalismo Digital da Universidade de Columbia, Emily Bell, defendeu esta mesma posição em artigo no "The Guardian".
"Grandes fundações como a Ford e a Gates começaram a subsidiar de forma direta o jornalismo. Não porque sintam pena, mas porque acham que trata-se de um benefício para a sociedade difícil de conseguir de qualquer outro modo", explicou a jornalista.
Além das intenções do comprador, a venda do "Post" pela família Graham representa para Doctor um movimento "lógico" se o que se procura é garantir a sobrevivência do jornal para que ele continue fazendo jornalismo.
"Em um entorno de múltiplos perigos, só a visão e o investimento em longo prazo que permitam renunciar ao lucro rápido podem recuperar estas companhias", comentou o analista, lembrando que Bezos já prometeu "inventar" e "experimentar" para avançar em um setor que hoje não vê futuro.
A premissa básica neste raciocínio - partilhado por vários de seus colegas e jornalistas - é que o modelo de empresa de capital aberto, no qual é preciso prestar contas periodicamente para acionistas e no qual se baseava o "Post" até antes da compra, não serve para uma conjuntura como a atual.
Um modelo assim em uma época de crise do setor obriga a reduzir custos para maximizar lucros e poder devolver o investimento aos acionistas, impedindo projetos em longo prazo e dificultando que a renda possa ser reinvestida na própria empresa para potencializar o crescimento.
Foi nesta linha que se expressou ontem o atual proprietário do jornal e principal responsável da venda, Donald Graham, nas próprias páginas do "Post". Ele assumiu que, embora "pudesse ter sobrevivido" na família e "tornar-se rentável em um futuro imediato", o que a empresa procura é "algo mais que a mera sobrevivência".
Caso tivesse permanecido com os Graham, o jornal teria sido condenado a cortes de pessoal, o que dificultaria manter os padrões de trabalho jornalístico que tornaram o impresso o mais vendido da capital americana e referência no mundo todo.
"O jornalismo tem um papel crítico em uma sociedade livre, e o "Washington Post" é especialmente importante. Gostaria de destacar dois tipos de coragem que os Graham me ensinaram e que espero manter. O primeiro é a coragem para esperar, checar os dados e buscar outra fonte. O segundo é a coragem para dizer 'siga com a notícia', sem importar o que isso custe", concluiu Bezos em carta a seus novos empregados.
Washington, 6 ago (EFE).- O surpreendente, e inesperado, anúncio da venda do "The Washington Post" para o dono do grupo Amazon, Jeff Bezos, escava as incertezas sobre o futuro da indústria jornalística, apesar de haver quem veja neste tipo de operação a maior garantia possível para a sobrevivência do jornalismo.
O prestigiado jornal, que liderou a investigação do caso Watergate, que provocou a renúncia do presidente Richard Nixon, chega às mãos do presidente e fundador da gigante Amazon por US$ 250 milhões, e depois de ver sua renda cair 44% nos últimos seis anos.
"O jornal continuará motivado por seus leitores e não pelos interesses privados de seus proprietários", afirmou o próprio Bezos em uma carta dirigida aos milhares de empregados do "Post", em uma tentativa de diminuir a inquietação e dissipar os temores de uma grande mudança após 80 anos de propriedade familiar do veículo pelos Graham.
O principal receio dos jornalistas é a incógnita sobre o objetivo do milionário Bezos em investir em um negócio deficitário como o "Post". O analista Ken Doctor, do portal "Newsonomics" tem uma resposta para essas elucubrações que conta com o respaldo de outros especialistas.
"O gasto com a compra do jornal representa menos de 1% da fortuna pessoal de Bezos. Os meios de comunicação constituem uma parte integral de qualquer democracia, e esta crença é muito difundida entre os ricos", apontou Doctor, aludindo a um hipotético caráter filantrópico da operação.
Doctor não é o único que aponta nesta direção. A diretora do Centro Tow de Jornalismo Digital da Universidade de Columbia, Emily Bell, defendeu esta mesma posição em artigo no "The Guardian".
"Grandes fundações como a Ford e a Gates começaram a subsidiar de forma direta o jornalismo. Não porque sintam pena, mas porque acham que trata-se de um benefício para a sociedade difícil de conseguir de qualquer outro modo", explicou a jornalista.
Além das intenções do comprador, a venda do "Post" pela família Graham representa para Doctor um movimento "lógico" se o que se procura é garantir a sobrevivência do jornal para que ele continue fazendo jornalismo.
"Em um entorno de múltiplos perigos, só a visão e o investimento em longo prazo que permitam renunciar ao lucro rápido podem recuperar estas companhias", comentou o analista, lembrando que Bezos já prometeu "inventar" e "experimentar" para avançar em um setor que hoje não vê futuro.
A premissa básica neste raciocínio - partilhado por vários de seus colegas e jornalistas - é que o modelo de empresa de capital aberto, no qual é preciso prestar contas periodicamente para acionistas e no qual se baseava o "Post" até antes da compra, não serve para uma conjuntura como a atual.
Um modelo assim em uma época de crise do setor obriga a reduzir custos para maximizar lucros e poder devolver o investimento aos acionistas, impedindo projetos em longo prazo e dificultando que a renda possa ser reinvestida na própria empresa para potencializar o crescimento.
Foi nesta linha que se expressou ontem o atual proprietário do jornal e principal responsável da venda, Donald Graham, nas próprias páginas do "Post". Ele assumiu que, embora "pudesse ter sobrevivido" na família e "tornar-se rentável em um futuro imediato", o que a empresa procura é "algo mais que a mera sobrevivência".
Caso tivesse permanecido com os Graham, o jornal teria sido condenado a cortes de pessoal, o que dificultaria manter os padrões de trabalho jornalístico que tornaram o impresso o mais vendido da capital americana e referência no mundo todo.
"O jornalismo tem um papel crítico em uma sociedade livre, e o "Washington Post" é especialmente importante. Gostaria de destacar dois tipos de coragem que os Graham me ensinaram e que espero manter. O primeiro é a coragem para esperar, checar os dados e buscar outra fonte. O segundo é a coragem para dizer 'siga com a notícia', sem importar o que isso custe", concluiu Bezos em carta a seus novos empregados.
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