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Português, uma língua em ascensão impulsionada pelo Brasil

10/06/2013 06h07

Antonio Torres del Cerro.

Lisboa, 10 jun (EFE).- Os mais de 250 milhões de habitantes dos países de fala portuguesa comemoram nesta segunda-feira o dia da língua portuguesa, cuja importância internacional ganha impulso pela boa fase econômica e demográfica do Brasil e de Angola.

A presidente Dilma Rousseff, que está em Lisboa, participa dos atos em homenagem à cultura lusófona, que acontecem no aniversário da morte do pai da literatura portuguesa, o poeta Luís Vaz de Camões (1524-1580), cujo nome batiza o prêmio literário mais importante do mundo lusófono.

Dilma e o chefe de Estado de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, entregarão juntos em Lisboa a 25ª edição do prêmio, vencido no dia 27 de maio, no Brasil, pelo moçambicano Mia Couto (António Emílio Leite Couto).

Portugal, berço da língua lusitana, e o Brasil, com quase 200 milhões de lusófonos, têm cooperado em muitas iniciativas para projetar ainda mais um idioma em franca expansão.

"A língua portuguesa é hoje uma das mais influentes do mundo, e tende ao crescimento de seus falantes nativos e dos que a usam como segunda língua", afirma o último estudo do Instituto Camões sobre a difusão do idioma português e sua afirmação internacional na cultura e na ciência.

"É uma língua falada nos quatro cantos do mundo, porque está viva, tem uma longa história e é de uma família linguística de grande relevância: a românica", ressalta em declarações à Agência Efe Paulo Rebelo Gonçalves, da Porto Editora, uma das maiores editoras lusitanas, que vê em seu idioma "uma extraordinária riqueza em todos os níveis".

A expansão do português como língua de comunicação internacional é atribuída, sobretudo, ao crescimento econômico muito acentuado na última década de Brasil e Angola.

Oito países têm o português como língua oficial: Portugal, Brasil, Timor-Leste, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Todos integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), organismo com sede em Lisboa que reúne a antiga metrópole e suas sete ex-colônias.

Guiné Equatorial, a antiga colônia espanhola na África, também almeja fazer parte dessa comunidade - além da francófona a qual já aderiu - e fez do português, por decreto, sua terceira língua oficial.

O Instituto Camões, promotor internacional da língua portuguesa, aponta agora a Ásia como força emergente em sua expansão, especialmente a China, onde a língua é falada na ex-colônia portuguesa de Macau.

Mas a América Latina, com a estratégica influência do Brasil, é "um espaço de crescimento natural, não só pelo fator de reciprocidade que o espaço implica, mas pela dinâmica econômica de seus países", segundo declarações à Efe de representantes do Instituto.

Na instituição também se destaca o que a aprendizagem recíproca das línguas dos países da América Latina representa "para a comunicação e proximidade entre os povos".

A pujança do idioma do nobel José Saramago não é apenas um tesouro patrimonial, mas uma fonte de riqueza para Portugal que o Camões calcula em 17% do que o país produz.

O idioma lusitano também tem, no entanto, grandes desafios pela frente, entre eles, como ressalta Gonçalves, a lenta aceitação do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e seu compêndio de mudanças para unificá-la.

Brasil e Portugal decidiram avançar com a aplicação do Acordo, mas Angola e Moçambique, dois dos maiores países da comunidade, se mostram pouco receptivos a fazer o mesmo, conta o editor.

As normas geraram fortes críticas em Portugal por suas profundas mudanças ortográficas, nas quais se impôs sobretudo o português brasileiro, mas começaram a ser aplicadas gradualmente há três anos e as administrações públicas, os veículos de imprensa e o setor da educação já o incorporaram.

O Brasil, apesar de ser o maior inspirador das mudanças, decidiu suspender a exigência do uso das normas do Acordo até 2016.