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Magia da literatura infantil sobrevive a "ameaça" de jogos eletrônicos

09/06/2013 06h12

Luísa Dalcin.

Rio de Janeiro, 9 jun (EFE).- Será que os heróis e vilões dos jogos para iPad e Xbox suplantarão, na preferência infantil, ícones da literatura como Peter Pan, Branca de Neve e Alice e seu País das Maravilhas? De acordo com participantes do 15º Salão FNLIJ do Livro para crianças e jovens, que acontece no Rio de Janeiro, escritores e educadores de todo o mundo que se fazem essa pergunta devem ser otimistas.

Aberto até o dia 16, o Salão comemora 15 anos reunindo, além de leitores, diversos escritores e ilustradores como Rosana Rios, Pedro Bandeira e o espanhol Alfonso Ruano.

Trata-se de um lugar onde o cheiro delicioso de papel novo é sentido a todo o momento, e no qual os olhos brilham a cada ilustração e no encontro com um mundo completamente desconhecido na página seguinte.

Cada vez mais frequentes nas listas de presente de aniversário, os jogos para videogames e tablets ameaçam substituir a leitura dos livros físicos, mas alguns especialistas acreditam que a magia da literatura infantil levará a melhor sobre as diversões eletrônicas.

Para a escritora e presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, não há porque temer uma substituição esmagadora da literatura pela tecnologia no imaginário das criancas.

"As crianças estão mudando desde que a humanidade existe. Mesmo assim, as historias de Homero de três mil anos atrás emocionam até hoje. Não acho que essa mudança seja intrínseca, o que mudam são as circunstâncias. As crianças continuam sentindo medo, desejos, ciúmes, as emoções básicas não mudaram", disse a escritora à Efe.

Os dados na região sao positivos para a literatura.

Segundo o Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe - CERLALC, em 2011 foram publicados 10.414 títulos infanto-juvenis nos países latinoamericanos, um número 27% maior em relação às 8.193 publicações de 2010.

Trata-se de livros como "Diário de uma banana 7 - segurando vela", de Jeff Kinney, e "A marca de Atena", de Rick Riordan, que estavam entre os seis livros mais vendidos no Brasil na última semana de maio, segundo dados do site especializado Publishnews.

Em contrapartida, nos ultimos anos, as vendas de livros infanto-juvenis cairam 10% na Espanha, que sofre uma grave crise económica, segundo um artigo do escritor cubano Antonio Orlando Rodríguez.

A escritora e ilustradora Rosana Rios acredita que existe o risco de enfraquecer o amor das crianças pela leitura quando não são colocados limites às distrações, mas que os pais e professores não podem desistir de investir nesses novos leitores.

"Quando o livro é bom, prende a atenção. Claro que a gente está lutando contra todas as mídias", disse.

"Você tem que formar o leitor quando ele ainda é pequeno, quando está aprendendo a ler ou ainda na barriga da mãe, ouvindo histórias: só assim se captura a imaginação e se transmite o amor pelos livros. É uma luta, mas uma luta que eu acho que vamos vencer", conclui.

Esse amor é palpável tanto no Salão FNLIJ de Rio de Janeiro como em outras feiras literárias infantis, que junto com as dramatizaçoes de livros em escolas e o frequente lançamento de livros atrativos para bebês (feitos em materiais resistentes a mordidas e puxadas) impulsionam as vendas.

Com o tempo, a tecnologia começou a fazer as pazes com a literatura e a mostrar que elas podem ser aliadas.

A empresa PricewaterhouseCoopers calcula que, em 2016, o gasto mundial com livros eletrônicos será de US$ 20,8 bilhões, um volume que representará 17,9% do mercado total.

Em comparação, em 2011 as edições digitais somaram apenas 4,9% das vendas.

No caso da Espanha, entre janeiro e setembro de 2012 foram publicados 15.255 livros no formato digital, o que representa 23% do total de títulos editados no país neste período, segundo dados da Agência ISBN.

Tudo indica que a literatura infantil sobreviverá à tecnologia de hoje e de amanha, desde que continue chegando ao coração dos leitores.