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Símbolo de Buenos Aires, livraria "Clásica y Moderna" completa 75 anos

Nury Rojas Patiño

Buenos Aires

25/05/2013 10h08

Símbolo histórico e cultural de Buenos Aires, a livraria "Clásica y Moderna" completa 75 anos e os celebra com uma homenagem ao espanhol Emilio Poblet, fundador de uma linhagem de livreiros da qual sua neta, a argentina Natu Poblet, é a única herdeira.

No início do século 20, Emilio Poblet emigrou à Argentina na busca por um futuro para sua família e tornou realidade seu sonho quando em 1916 abriu a livraria "Académica de Poblet e Hijos" em Buenos Aires.

Duas décadas depois, em 1938, seu filho Francisco decidiu criar seu próprio espaço, sem separar-se da tradição familiar, e abriu a "Clásica y Moderna", hoje referência para o mundo cultural e literário portenho.

Reconhecidos artistas, escritores, jornalistas e intelectuais como Jorge Luis Borges, Manuel Mujica Lainez e Adolfo Bioy Casares, entre outros, foram visitantes assíduos da livraria e contribuíram para transformá-la em parada obrigatória para os amantes da leitura.

Durante a última ditadura militar (1976-1983), a "Clásica" conseguiu reunir intelectuais comprometidos para realizar reuniões e debates que consolidaram seu protagonismo no mapa cultural de Buenos Aires.

Não em vão, coincidindo com seu 75º aniversário, que será comemorado neste sábado, o governo da cidade de Buenos Aires a distinguirá com um reconhecimento a sua trajetória em favor da cultura.

Além disso, Natu Poblet quis celebrar esta data tão especial com a edição de "La Cuna Verde", um livro de memórias em homenagem a seu avô e a criação de um prêmio literário que será entregue a um escritor argentino.

"A cultura é herança", declarou Natu, que em sua juventude optou pela arquitetura e não pelos livros, contradizendo os desejos de seu pai, convencido que, cedo ou tarde, sua filha se somaria à tradição familiar.

Talvez com esse convencimento, lhe presenteou um livro de arquitetura com a dedicatória: "Para minha querida filha, que vai continuar a tradição de seu avô e de seu pai".

Tempos depois, Natu se deixou vencer pelos livros e entrou de cabeça na gestão da "Clásica" junto com seu irmão Paco, falecido há 15 anos.

Apesar de seu empenho para convencer sua filha a seguir a tradição familiar, seguramente Francisco Poblet nunca pôde imaginar que sua livraria terminaria transformada em uma espécie de centro cultural, com restaurante, bar e até mesmo um piano para shows.

A transformação não foi bem recebida por seu pai: "Para ele pareceu uma profanação, ele tinha uma visão da livraria como um templo do saber", lembrou Natu em entrevista à Agência Efe.

Após a morte de Francisco Poblet, seus filhos redesenharam o conceito da livraria, deixando de lado a ideia de textos ordenados em prateleiras e criando um espaço cultural e um ponto de encontro, com o estilo e a tradição familiar, mas complementado por um café e um restaurante elegante e moderno.

"Muita gente me dizia que lhes dava medo entrar na livraria de papai, porque era como entrar em uma igreja. Tinham medo de pronunciar mal o nome de um autor ou não saber qual era o livro que tinha escrito", comentou Natu, rodeada de livros empilhados em uma das mesas do recinto.

Para Francisco Poblet, seu fundador, "a livraria não era um lugar onde se vendia qualquer coisa, era algo sério, ele dava um valor aos livros que hoje não ninguém dá", segundo sua filha.

"A Clásica era como um prolongamento da minha casa", explicou Natu, que, no entanto, ressaltou que "não se deve sacralizar a embalagem, por isso também não é preciso apegar-se ao papel ou a seu cheiro".

"O que é um livro? É seu conteúdo", concluiu.