Topo

Bienal de arquitetura na Espanha discute desafios enfrentados pelo Brasil

18/04/2013 18h03

Javier Rodrigo.

Pamplona, 18 abr (EFE).- Cerca de 135 milhões de pessoas migraram do interior para áreas urbanas no Brasil desde 1960, o que significa que nesse período, foram construídos imóveis e infraestrutura equivalentes a "três Espanhas", segundo dados apresentados nesta quinta-feira na Bienal de Arquitetura Latino-Americana realizada na Universidade de Navarra, na Espanha.

A Bienal - que termina amanhã - conta com a participação de arquitetos de oito países latino-americanos - México, Chile, Peru, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai e Equador -, e é dedicada ao Brasil, que tem se destacado no cenário internacional por ser a sétima economia do mundo, e sede de grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

"A arquitetura brasileira - explicou à Agência Efe o professor da USP Carlos Ferreira - sempre teve que oferecer respostas à escala do país que tem 8,5 milhões de km² e uma população de 185 milhões de habitantes, dos quais 85% vivem em áreas urbanas".

Segundo Ferreira, desde 1960, cerca de 135 milhões de pessoas se mudaram para as cidades. "No Brasil, tivemos que construir cidades e urbanizar áreas para abrigar todas essas pessoas, que correspondem a quase três vezes o número de habitantes da Espanha".

A escala dos desafios é "uma característica fundamental" que a arquitetura brasileira não pode evitar, porque é sua "condição nacional", afirmou o professor, que também chamou atenção para o atual "ressurgimento econômico" que caracteriza um momento "muito especial" da história do país.

Além disso, ele ressaltou que há momentos na vida dos países nos quais "há uma tomada de consciência do que uma nação é, e do que quer dizer aos demais. Isso aconteceu na Espanha nos anos de 1980 e 1990 com muita clareza".

"O Brasil vive esse momento agora, e desenvolve uma certa consciência em relação aos desafios e avanços que se expressam em termos culturais, seja na música, no cinema ou na arquitetura", disse.

A mensagem que o Brasil quer transmitir ao mundo, segundo ele, é a de que é possível superar décadas de dificuldades econômicas, e, sobretudo, que "as noções de desenvolvimento-subdesenvolvimento ou centro-periferia não devem ser aplicadas mecanicamente".

"O Brasil mostra que em termos culturais não há centro nem periferia, e que todos contribuem ativamente para uma cultura que hoje é, por definição, internacional", garantiu Ferreira.

Outros participantes brasileiros da bienal, como Gustavo Cedroni, do escritório paulista Metro Arquitetos, fizeram questão de evidenciar o "enorme desafio" enfrentado pelo país. Ele confirmou à Efe que "tudo precisa ser construído", ao contrário da Europa, onde "grande parte das construções e dos sistemas de infra-estrutura já estão prontos e muito bem feitos, enquanto no Brasil ainda são necessários hospitais, escolas e outras coisas básicas".

"Tudo que o Brasil precisa - disse ele - deve ser construído em uma escala gigantesca, tanto nas dimensões dos edifícios como no que se refere ao número de projetos a serem realizados nos próximos anos".

A arquitetura brasileira, acrescentou, é muito diferente da europeia, e está condicionada não somente ao clima, mas também a circunstâncias políticas, culturais e econômicas distintas.

Cedroni afirmou ainda que no Brasil há vários arquitetos espanhóis e portugueses e que ainda há "muito trabalho", mas ressaltou que "o que a Europa imagina ser o 'boom' brasileiro é muito diferente da realidade".

"Estamos melhorando, mas é preciso trabalhar muito. O Brasil é um país latino-americano e é muito difícil trabalhar lá", disseram arquitetos espanhóis.