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Atores arrancam gargalhadas dos passageiros do metrô de Buenos Aires

Jeremías di Rosa, Giselle Deguisa (à dir.) e Silvia Levy (à esq) do grupo de teatro Atores no Subte, fazem uma esquete cômica no metrô de Buenos Aires - EFE/Javier Brusco
Jeremías di Rosa, Giselle Deguisa (à dir.) e Silvia Levy (à esq) do grupo de teatro Atores no Subte, fazem uma esquete cômica no metrô de Buenos Aires Imagem: EFE/Javier Brusco

Mar Centenera

24/01/2013 10h06

"Meu amor, me perdoe, o que aconteceu com Nancy foi ocasional", suplica um homem no metrô de Buenos Aires enquanto uma mulher responde aos gritos que "cinco vezes não é ocasional", perante o olhar atônito de dezenas de passageiros que não sabiam que estavam diante de uma esquete cômica.

À medida que a briga continua, quase todos os viajantes entendem que a cena de ciúmes é fingida e riem e aplaudem com entusiasmo quando os atores acabam a encenação.

Embora sempre haja exceções, admite Jeremías, ao lado Silvia, que minutos antes era sua morena e furibunda esposa, e Giselle, sua amante loira.

Os três integram "Atores no Subte", um grupo de teatro fundado há uma década e pelo qual já passaram vários artistas.

"Uma vez um policial me abordou pensando que eu estava maltratando minha companheira e até pediu meus documentos. Eu disse que estava atuando, mas ele não acreditou", relata à Agência Efe Jeremías di Rosa em um das plataformas de estação da linha B do metrô portenho.

"Continuei atuando e o policial continuou me vigiando até que a esquete terminou. Ele não parecia feliz, mas entendeu, e as pessoas, que acreditavam que o pior podia acontecer, aplaudiram mais que nunca", lembra.

As esquetes que interpretam são cenas da vida cotidiana, como discussões de casal ou conflitos trabalhistas "com os quais os passageiros podem se identificar", afirma Jeremías.

Sua companheira, Giselle Deguisa, agradece "os sorrisos e a boa recepção" do público.

Giselle conta que ela mesma uniu-se ao grupo após participar espontaneamente em uma de suas peças e assinala que as mulheres são mais abertas que os homens na hora de se transformar em cúmplices dos atores.

Após a atuação, passam o chapéu e asseguram que o dinheiro arrecadado é "o suficiente para viver", embora prefiram não dar números e alternem este trabalho com outros.

"Algumas manhãs trabalho como professora de Educação Física, mas, embora tenha estudado anos para ser professora, ganho mais no metrô", declara Silvia Lévy, que chegou ao grupo através de seu site.

Além de proporcionar uma estabilidade da qual muitos colegas carecem, o horário de suas atuações - de segunda-feira a sexta-feira, entre 10h e 18h - é mais próprio de funcionários públicos que de atores de teatro, o que facilita combinar trabalho e família.

"Sou um cara normal, tenho dois filhos", diz Jeremías, para se distanciar do mulherengo e mentiroso Arturo, um dos personagens que interpreta e que, certa vez, enfureceu uma jovem, que lhe chamou de "machista".

Talvez para evitar novas críticas, em uma das esquetes as mulheres têm sua revanche e combinam de ir juntas às lojas gastar o cartão de crédito de Arturo.

O barulho, o contínuo vai e vem de passageiros, a convivência com vendedores ambulantes e músicos e outros imprevistos próprios de atuar em um palco tão atípico complicam o trabalho, mas são também "um desafio", comenta Silvia.

"Você aprende a improvisar, a atuar em qualquer circunstância porque a audiência muda a cada cinco minutos", explica a atriz, que está convencida que o metrô é uma "grande escola de vida".