Topo

Tabu da sexualidade feminina vira peça de teatro no Marrocos

Adaptação marroquina de "Monólogos da Vagina" estreia em Rabat - Efe
Adaptação marroquina de "Monólogos da Vagina" estreia em Rabat Imagem: Efe

29/11/2012 06h01

Rabat, 29 nov (EFE).- A obra de teatro "Dialy" ("És minha", em português), inspirada nos "Monólogos da Vagina", de Eve Ensler, aborda o tema tabu da sexualidade feminina no Marrocos e lança uma mensagem ao público do país: o corpo da mulher pertence a ela mesma.

"Ta-Bún" ("Va-gi-na"), exclama aos gritos uma das três atrizes, vestidas de preto e em um palco cujo único cenário é uma barraca de comércio de rua com calcinhas penduradas, enquanto o público responde com uma onda de risos ao escutar uma palavra "impronunciável" na sociedade marroquina, que a considera vulgar.

"Dialy", escrita pela roteirista Maha San, é fruto de um árduo e delicado trabalho baseado nos testemunhos de 150 mulheres que durante meses relataram suas experiências em oficinas com a autora e com membros do teatro Aquarium.

Por isso, os personagens não se apresentam com nomes próprios, porque as atrizes representam diferentes pessoas e vão se alterando umas com as outras à medida em que o texto avança.

Adaptação de "Monólogos da Vagina" estreia em Rabat

"A virgindade, muito importante no Marrocos, é uma das questões-chave na obra", afirma Maha, que para ilustrar o tema lembra uma das cenas da peça na qual um homem tira a virgindade de sua esposa no dia de seu casamento, enquanto a irmã bate sem descanso à porta e pergunta: "É virgem ou não?".

Outro momento marcante é o no qual uma das atrizes representa um homem que aparece triunfal com uma calcinha manchada de sangue e exclama "Não é suco de beterraba. Olhem vizinhos, a mulher honrou seu pai".

No início da apresentação, Maha pede que o público não tire fotos e faça vídeos para "proteger as atrizes", já que, segundo ela, "houve muitos insultos e palavras violentas nas críticas que foram escritas sobre a peça".

"Dialy" também ridiculariza algumas situações, como a de uma mulher no corredor de um hospital esperando para ter um filho, enquanto seu marido lhe diz: "Me ligue quando terminar", ou a de uma jovem que pede "um pouco de algodão e 'Betadine" porque menstrua e não tem noção do que está acontecendo com seu corpo.

Toda espécie de violações - conjugal, de menores ou grupal - são relatadas explicitamente pelas atrizes, sempre em contraposição com a virgindade: uma mulher é obrigada a fazer sexo anal, e sua família considera que ela deve agradecer a Deus "porque continua sendo virgem".

Porém, apesar do tema, durante os cerca de 50 minutos de duração da obra as atrizes conseguem, através da paródia de canções tradicionais e com uma constante pitada de humor e ironia, mostrar de forma natural o sofrimento da mulher marroquina e sua relação com a própria sexualidade.

"É minha feminilidade, sou mulher e esta vagina é minha e vai comigo aonde quer que eu vá. Ao mercado, à escola, ao 'hamám' (banho árabe), inclusive à mesquita", conclui "Dialy", que ontem conseguiu que o público se levantasse para aplaudir.