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Dançarinos aéreos desafiam as leis da gravidade no México

O grupo de dança Bandaloop apresenta o espetáculo "Bound(less)" na Cidade do México (10/11/12) - Alex Cruz/EFE
O grupo de dança Bandaloop apresenta o espetáculo "Bound(less)" na Cidade do México (10/11/12) Imagem: Alex Cruz/EFE

Asela Viar

14/11/2012 10h25

Seis dançarinos suspensos a uma altura de até 40 metros desafiaram na capital mexicana as leis da gravidade, ao transformar as fachadas de vários prédios no palco de um espetáculo que funde dança e escalada.

O espetáculo, intitulado "Bound(less)" ("Sem limites"), procura através do movimento e da coreografia questionar a natureza da identidade humana e suas relações, segundo explica em entrevista à Agência Efe a diretora artística e coreógrafa do evento, Amelia Rudolph.

Para isso, a companhia americana Bandaloop, precursora das chamadas danças verticais e cujo lema é "Sky is not the limit" ("O céu não é o limite"), ocupou na semana passada pelo menos três dos prédios do Centro Nacional das Artes (Cenart), ao sul da cidade, e reuniu centenas de pessoas nas imediações do local para presenciar a surpreendente performance.

"Queria conectar os movimentos com a realidade da experiência humana, explorar quem somos perante nós mesmos e em nossas relações com os demais", disse Amelia, que fundou o grupo em 1991 com o propósito de unir suas duas grandes paixões: a dança e a escalada.

Os movimentos, acrescentou, se transformam em "metáforas" que permitem aprofundar a percepção destas relações como a que protagonizam três dançarinas unidas por um tecido branco, que "precisam negociar seus próprios passos porque estão literalmente conectadas".

O espetáculo, que poderá ser visto nas cidades de Campeche e Puebla nos dias 16 e 23 de novembro, respectivamente, é além disso um "tributo à natureza e ao espírito humano", segundo explicou a artista, afirmando que o grupo está há mais de três anos trabalhando neste exercício e até o momento mais de 50 mil pessoas já o assistiram.

Além de uma cuidadosa iluminação que faz com que as sombras também ganhem protagonismo e um colorido figurino, a representação é acompanhada por jazz ao vivo, executado pelo músico Dana Leong.

"Bound(less)" também inclui uma parte dramatizada na qual um dos dançarinos interpreta um monólogo, no qual é levantada a dúvida de "Quem somos?", após rastrear no Google seu nome. "Interessava-nos esta pergunta da identidade atualmente, de quem somos à margem da tecnologia porque sabemos que, claro, a tecnologia influi no que consideramos quem somos agora", expressou Amelia.

Segundo explicou a coreógrafa, o maior desafio da montagem é se adaptar em cada atuação às características do espaço arquitetônico no qual ele é realizado. Neste caso, diante da atuação em três prédios diferentes, o grupo teve que ensaiar "duramente" para dominar o "palco".

Os dançarinos precisam conhecer perfeitamente o local onde vão trabalhar, não só por segurança e para que os movimentos sejam bem executados, mas também para evitar imprevistos e se atrasarem ao ir de um prédio a outro durante a atuação.

Por isso, durante vários dias exploraram tanto as paredes como o interior dos prédios da Torre de Direção e Pesquisa, do teatro Raúl Flores Canelo e da Biblioteca das Artes deste complexo cultural multidisciplinar.

Em relação ao título, "Bound(less)", Amelia explicou que "enfatiza que estamos unidos, desde nossa identidade, até nossas relações, nossa vida", algo que expressam os dançarinos, que "negociam seus movimentos e, juntos, podem não ter limites".

Além disso, a coreógrafa disse que ao ser um espetáculo ao ar livre devem estar preparados para qualquer tipo de imprevisto, visto que a execução pode ser afetada pelo vento ou pela chuva, o que implica um esforço físico maior para que o espetáculo "saia bem", "como se não custasse nenhum esforço" dançar sobre a parede.

Amelia insistiu que há muito cuidado com as condições de segurança do espetáculo, por isso que vários meses antes técnicos de segurança exploram as fachadas dos edifícios, algo que, assegurou, em 20 anos lhes permitiu não sofrer nenhum acidente grave.

A última criação do Bandaloop chega ao México depois de ter sido apresentada em lugares como a Grande Muralha de Oakland, na Califórnia, o antigo escritório dos Correios de Washington e o Kennedy Center, todos eles nos Estados Unidos.

Além do espetáculo está previsto que seus protagonistas façam uma oficina de dança vertical durante três dias para companhias mexicanas, enquanto o músico Dana Leong oferecerá a estudantes de música a oficina "Composição e interpretação com laptop".