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Projeto usa grafite para retratar moradores nas paredes do centro de Paris

Grafiteiro pinta rosto de morador do centro de Paris em muro da cidade (22/9/12) - EFE
Grafiteiro pinta rosto de morador do centro de Paris em muro da cidade (22/9/12) Imagem: EFE

Javier Albisu

27/09/2012 06h09

Alguns inusitados grafites, assinados por quatro artistas diferentes, tomaram o coração de Paris desde segunda-feira (24)  com base nos rostos dos próprios moradores do centro da capital francesa, uma iniciativa municipal que pretende dar vida às fachadas dos prédios mais emblemáticos da região.

"São pessoas do bairro. Pessoas que não são famosas, mas são conhecidas e representam bem o bairro, sendo morador ou comerciante... Posteriormente, os artistas levam essas imagens em grande escala aos emblemáticos edifícios da cidade", explicou à Agência Efe Anna Dimitrova, responsável pela empresa Nobulo, autora da iniciativa.

Ao todo serão oito obras, todas buscando uma aproximação gratuita e popular entre as pessoas e a arte contemporânea, expostas no exterior dos edifícios situados ao redor do Museu do Louvre, da Comedie Française e do centro comercial de Les Aches.

Desta forma, as obras buscam devolver o espaço público aos moradores, expondo seus retratos em lugares transitados por milhares de pessoas todos os dias.

"A ideia é pegar uma pessoa querida e conhecida dentro de seu círculo e ampliar um pouco essa dimensão. Vamos dar um ângulo diferente e ver como as pessoas e seus vizinhos reagem", afirmou Axel Void, artista americano que inicia o percurso artístico com uma grande pintura de Elza, um bebê de 9 meses e a mais jovem escolhida para fornecer seu rosto e história aos muros de seu bairro até o final do mês de dezembro.

"Sempre quis fazer um recém-nascido em um mural. Não há um motivo, mas se deve ao fato de não ter uma história, não se saber sobre seu futuro e nem quem será essa pessoa... Aliás, isso também pode ser perigoso porque ela pode crescer e dizer: 'porque você fez isso?'", brinca Void.

O grafite, além de ser a técnica que se associa por excelência com a arte urbana que invade os muros e paredes, também traz ao projeto uma "linguagem mais popular". "O que quero dizer com meu trabalho é importante que todos possam entender. Neste ponto, é importante que a linguagem utilizada seja popular", completou Void.

Entre os oito selecionados, todos escolhidos em uma votação, há comerciantes, empresários, vendedores, voluntários e a senhora Chaleyat, uma ex-professora e militante feminista de 95 anos cujo retrato ocupa a fachada da Prefeitura do primeiro distrito de Paris.

Desta forma, o artista espanhol "El niño de las pinturas de la calle", que também assina outras duas das pinturas, buscou dar vida não somente ao rosto, mas também a história de seu modelo Jean Noel Julien.

"É um senhor que tem uma padaria. Começou a trabalhar com pão desde pequeno e, após muita luta, conseguiu montar uma padaria muito boa e a que faz o melhor pão de Paris", comentou o grafiteiro.

Além de "Axel Void" e "El niño de las pinturas de la calle", o projeto também conta com a participação do francês "Atma" e do italiano "Macs", os quatro pseudônimos que assinam as obras e que se unem em nome da paixão pela pintura figurativa em grande formato e pela arte urbana.

"Aprendi a pintar fazendo grafite. Depois, para não ir ao serviço militar, estudei um pouco. Após escapar do serviço militar, eu segui pintando grafites", resumiu o artista espanhol.

A iniciativa, chamada "Les Etres Aimés" (Os seres queridos), é uma adaptação do projeto realizado no México (Campeche e Monterrey, em 2010) e em Paris (distrito VI, em 2011). Segundo seus responsáveis, os próximos destinos devem ser Bruxelas e Casablanca.