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A voz da arte cênica ibero-americana ressoa no Brasil

09/09/2012 06h06

Marta Berard.

Santos, 9 set (EFE).- O universo das emoções gerado através da precisão das máquinas ou uma adaptação tropical da história de amor mais famosa lembrada pelo teatro se reúnem com o público em um festival dedicado à "linguagem própria" da cena ibero-americana, que estes dias é realizada no Brasil.

Até o próximo dia 15, o festival ibero-americano de artes cênicas "Mirada" apresenta 38 espetáculos de 14 países em diferentes pontos da cidade de Santos e de outros municípios do litoral do estado de São Paulo.

"O evento procura divulgar e fazer uma troca intensa da cena contemporânea ibero-americana, que apresenta uma linguagem própria, definida por um caráter mais festivo, mais ousado", explicou à Agência Efe Danilo Santos de Miranda, especialista em ação cultural e membro do conselho diretor do festival.

Na sua opinião, as artes cênicas ibero-americanas apresentam uma visão do mundo mais solar que a procedente de outros lugares e se declarou um admirador da tradição e cultura mediterrânea e de sua relação natural com o sol e o mar.

"Falta ao mundo um pouco de mediterraneidade", disse o especialista, assegurando que os herdeiros do Mediterrâneo são os países da América Latina.

O evento, dedicado este ano ao México com sete produções desse país, tem seu foco no panorama contemporâneo da arte cênica procedente de Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela.

Para se integrar na rotina urbana, as intervenções e representações também saem do teatro e percorrem as ruas e praças de Santos.

A representação espanhola no festival é integrada pelas companhias Fadunito e Els Joglars, que trazem seu espetáculo "El Nacional", enquanto Antígua e Barbuda participa com dois espetáculos com funções quase diárias na unidade do Sesc de Santos, instituição que promove o festival.

Com "El circo de las penas" e "B.A.R.R.A", os responsáveis de Antígua e Barbuda oferecem ao público uma vertente expositiva durante o dia e uma "história narrada" ao pôr do sol, disse à Efe Jordà Ferré, um dos criadores da companhia.

As histórias narradas não são mais do que "uma desculpa" para poder mostrar os autênticos protagonistas, que são máquinas que "falam de sentimentos, de emoções".

"Cada máquina tem um poema como manual de instrução", disse o criador, opinando que os artefatos são capazes de contar muitas coisas.

"Nossa linguagem são as máquinas, a força está em cada objeto", disse o artista, acrescentando que teatro, arquitetura, engenharia e desenho são disciplinas que não devem caminhar de forma separada.

Entre os nomes mais consagrados está o brasileiro Grupo Galpão, que leva às ruas sua adaptação com música popular mineira do clássico "Romeo e Julieta".

Interpretada ao ar livre, com o público sentado ao redor do espaço interpretativo, o Galpão revisa com humor, picardia e constantes acenos à plateia a mil vezes contada tragédia de dois jovens amantes condenados pelas rusgas entre suas famílias.

Emoldurados em uma bela cenografia, os atores trepam em escadas, usam pernas de pau, sapatilhas de balé e sobem no teto de um veículo, que constitui o espaço de confirmação de seu amor imortal.

O festival, que começou na quarta-feira da semana passada, acontece a cada dois anos em datas próximas ao dia 7 de setembro, quando se comemora a Independência do Brasil, para aproximar o público das artes cênicas de países de língua espanhola e portuguesa.