Mostra em Nova York exalta mulher "de carne e osso" por trás do mito Evita
Nova York, 7 set (EFE).- A cidade de Nova York inaugura nesta sexta-feira uma mostra sobre Eva Duarte de Perón, a chamada Evita, com cerca de 500 objetos pessoais, fotografias e obras de arte inspiradas na influente ex-primeira dama argentina, as quais se propõe a exaltar a mulher "de carne e osso" que existe por trás desse verdadeiro mito.
"Sessenta anos após sua morte, propomos uma reflexão entre o mito e a realidade com a intenção de tentar saber o que foi criado, entre a relação de amor e ódio que gerou sua figura, e o que é realidade em sua trajetória", disse hoje à Agência Efe Cristina Álvarez, sobrinha-neta de Evita, que viajou até a Nova York junto de outros familiares para inaugurar a mostra.
Sob o título "Evita Pasión y Acción" (Evita Paixão e Ação, em livre tradução), a exposição instalada no Consulado argentino apresenta diferentes facetas desta "lendária mulher" através de vestidos, imagens e fotografias que repassam desde sua infância até seus últimos dias de vida, além de trabalhos artísticos contemporâneos inspirados em sua obra e legado.
Durante um percurso pela mostra, Cristina para em frente a um vestido de cor bege, do qual destaca sua "ligação com a criação do partido peronista feminino", e se emociona ao ver uma foto de sua tia-avó falando com uma idosa durante um ato público.
O mito que rodeia a Evita surge "ainda em vida", assegurou Cristina, que destacou também a morte prematura de uma mulher "revolucionária" (aos 33 anos), que "em sete anos de vida pública fez uma ação de Governo que outros precisariam três vidas".
"Se fugirmos do mito Evita, nos deparamos com uma mulher de carne e osso que teve muitos acertos, mas também muitos erros", reconheceu Cristina, que admitiu que há espaço para uma reflexiva autocrítica ao revisar esse personagem histórico.
Neste aspecto, existe o chamado "mito branco", a Evita boa, que atende os desejos de seu povo e que não comete erros "e é quase santa", e o "mito negro", que representa uma Evita "monstruosa" e "demoníaca". "Já nos anos 70, aparece o mito vermelho, a Evita revolucionária, a musa inspiradora de toda uma geração", completou a sobrinha-neta de Evita.
A indústria cultural também contribuiu para forjar a lenda com a criação de "uma Evita mais light", cujo máximo expoente é o musical de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, que até hoje está presente nos cartazes da Broadway.
"Hollywood sugere outra leitura, uma Evita que não se compreende muito bem quem foi, mas que é muito bela, arriscada e admirável. Uma obra artística belíssima, mas sem rigor histórico. É preciso ler a história em outros lugares para contrastar essa versão", acrescentou Cristina à Agência Efe.
Presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Históricas Eva Perón, Cristina destaca que por trás do mito criado há uma mulher que lutou pela justiça social e que alcançou importantes conquistas para as mulheres, como o voto feminino.
"Não se tratava apenas de fazer caridade, era um novo conceito de equidade e paridade para um povo que sofria e vivenciava grandes disparidades sociais", disse.
Aberta até o dia 28 de setembro, a mostra itinerante faz parte do extenso patrimônio do Museu Evita, que viaja pela primeira vez a Nova York, "uma vitrine para o resto do mundo".
Na atualidade, o museu conta com quase mil objetos pessoais da segunda esposa do general Juan Domingo Perón, além de uma biblioteca de 8 mil livros, uns 3 mil jornais na hemeroteca, mais de 300 horas de filmes e até 6 mil fotografias.
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