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Artista português estampa rostos anônimos em muros de grandes cidades

Artista português Alexandre Farto estampa rostos anônimos em muros de grandes cidades (1/9/12) - EFE
Artista português Alexandre Farto estampa rostos anônimos em muros de grandes cidades (1/9/12) Imagem: EFE

Susana Irles

03/09/2012 10h24

Referência mundial na chamada arte urbana, o português Alexandre Farto usa a cidade como inspiração desde os 13 anos para dar forma ao seu relato de rostos anônimos escavados em muros, seja em Portugal ou na China.

Até o dia 8 de setembro, a exposição "Diorama", montada na galeria Vera Cortés, devolve à cidade que lhe viu crescer parte deste talento que foi revelado nas ruas de Lisboa sob o nome de "Vhils", seu pseudônimo de grafiteiro.

As peças repassam o percurso de sua curta e promissora carreira entre quatro paredes, enquanto a mostra revela a técnica em que Farto é precursor: a "scratching the surface" (arranhando a superfície), como ele mesmo define.

Isso porque, o artista estampa suas imagens nas paredes - a maioria rostos - com uso de martelo, espátula, cinzel e, até mesmo, explosivos. Neste aspecto, seu lema é construir destruindo, quebrando e raspando os muros, as portas e os cartazes publicitários para exaltar a "arqueologia" da cidade a partir do contraste entre o velho e o novo.

"Ele trabalha de maneira única com camadas que vão redescobrindo e compondo simbolicamente uma história, a da própria cidade", explica à Agência Efe, Vera Cortés, dona da galeria onde a exposição está sendo montada e uma das descobridoras do talento jovem de apenas 25 anos.

O jovem português começou no mundo da arte usando "spray" e fazendo grafites nas paredes da capital portuguesa, onde os restos dos murais políticos que relembram a revolução democrática portuguesa dos anos 70 ainda podem ser vistos.

Um dia ele resolveu rasgar os cartazes publicitários que ocultavam essa antiga propaganda política e descobriu que a decomposição dos muros poderia estimular sua criatividade. Pouco tempo depois, ele já começou a elaborar suas primeiras "escavações", camada a camada, e a formar suas primeiras "pinturas".

Alguns especialistas comparam o trabalho e a figura de Farto com o artista Banksy, a grande lenda britânica da arte urbana. Além de já terem expostos algumas obras em conjunto, tanto as obras de Banksy como as de Farto começam a deixar as ruas para entrar em galerias famosas.

Para Vera Cortés, Farto "é um artista e ponto". "Não consigo distinguir o que é arte e arte urbana", completou Vera, uma fã declarada do trabalho do artista.

Dentro de um âmbito ou outro, a fama do jovem pelo mundo é cada vez maior. Além do documentário que será lançado por uma emissora alemã, o trabalho de Alexandre Farto já foi capa até do jornal britânico "The Times", que já publicou amplos artigos sobre sua obra. Isso sem falar no assédio em torno do artista nas ruas de Portugal, onde costuma reunir diversos de jornalistas.

Farto mora entre Portugal e Inglaterra, onde estudou Belas Artes na Universidade de Artes de Londres, mas sua vida não se restringe a nenhuma cidade do mundo. Sua ideia é levar sua arte para o maior número de lugares que tiver possibilidade.

Em sua última viagem, o artista foi até Xangai, na China, onde trabalhou para a galeria 18Gallery, em um bairro em processo de demolição. Como a intenção era mostrar os efeitos colaterais do crescimento econômico chinês, Farto acabou esculpindo os rostos dos antigos proprietários que foram expulsos de suas casas.

Além da China, sua obra já pode ser encontrada em outros três continentes e cidades, como Bogotá, Buenos Aires, Los Angeles, Nova York, Paris e Cidade do México, embora grande parte ainda continue escondida nas paredes de Lisboa, sua cidade de origem.