Escritora Nélida Piñon expõe lembranças mais afetivas em novo livro
A escritora carioca Nélida Piñon, uma das mais conhecidas do Brasil e Prêmio Príncipe de Astúrias de Letras em 2005, decidiu relatar, aos 75 anos, parte de suas memórias no "Livro das Horas".
A obra - que mistura diferentes gêneros e não tem pretensão de ser uma autobiografia, mas uma síntese de suas lembranças mais afetivas -, já começou a ser vendida nesta semana. No entanto, o livro será lançado oficialmente somente no dia 15 de agosto, no Rio de Janeiro, informou à Agência Efe a editora Record.
Nélida, a primeira mulher a receber o Prêmio Juan Rulfo de Literatura (1995) e a primeira a assumir a Presidência da Academia Brasileira de Letras, aborda temas que marcaram sua vida e, por isso, os trata com grande sensibilidade e simplicidade na escrita.
Em suas memórias, a autora, que nasceu no Rio de Janeiro, no dia 3 de maio de 1937, relata a luta contra a censura durante a ditadura militar (1964-1985), sua amizade de quase duas décadas com Clarice Lispector e até mesmo seu amor pelo cachorro Gravetinho, que vive com a escritora em um apartamento na Lagoa.
Entre suas lembranças, a escritora inclui suas viagens à Galícia, onde estudou vários anos e buscou inspiração para parte de sua obra, e a Nova York, cidade com a qual demonstra uma grande proximidade.
De acordo com a apresentação da obra feita pela editora Record, "a cada página a autora deixa claro que, independente de sua vivência ou da riqueza de suas lembranças, sua história de amor sempre foi uma só: com a palavra".
Além da amiga Clarice Lispector, Nélida inclui outros escritores de destaque em suas memórias, pessoas com quem teria compartilhado ideias, projetos e confidências. O colombiano Gabriel García Márquez, o mexicano Carlos Fuentes, que morreu no último mês de maio, e o poeta Bruno Tolentino são alguns que ganham espaço nas memórias da escritora.
"A sensação que tenho é de que vivi várias vidas", assegurou Nélida em uma entrevista publicada para promover o lançamento de sua nova obra.
A escritora acrescenta que o nome da obra faz referência aos nomes dos livros de orações da Idade Média, os quais eram divididos em horas. Mas, segundo a própria escritora, trata-se de uma obra cujo gênero é difícil de se definir.
"É uma confluência de gêneros. Tem uma visão poética da realidade, uma análise da sociedade com fatos, histórias, memórias pessoais e alheias... É uma espécie de viagem à realidade", afirmou Nélida na mesma entrevista.
As memórias desta escritora brasileira, que já teve parte relatada em 1961 com o lançamento do romance "Guia-mapa de Gabriel Arcanjo", são expostas como se Nélida estivesse contando a um amigo ou nas conversas com seus colegas da Academia Brasileira das Letras para tomar um chá.
Sem a pretensão de ser uma autobiografia, o "Livro das Horas" também não é um volume de memórias convencionais, mas um conjunto de textos para incluir lembranças importantes e confissões.
As confissões, no entanto, são limitadas. "Não vem ao mundo para expor a natureza do meu amor e nem mesmo quem amei. Sou ciumenta guardando nomes e circunstâncias", admite a escritora no livro.
A obra começa pelas lembranças de sua infância e pela descrição de seus pais, os emigrantes galegos Lino Piñón Muñoz, a quem chama de "galante e misterioso", e Carmen Piñón, que, segundo a autora, "regia o cotidiano com harmonia".
Entre suas viagens, Nélida cita em especial uma realizada ao rio Araguaia, na Amazônia, onde alguém tentou surpreendê-la com um pequeno jacaré junto ao seu quarto.
Entre as obras mais conhecidas e mais traduzidas de Nélida Piñon figuram "A casa da Paixão" (1972), "A Doce canção de Caetana" (1987) e "A República dos Sonhos" (1984).
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