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Ativista cria primeira editora de temática homossexual da Índia

A ativista Shobhna Kumar, criadora da editora Queer Ink, voltada para o público gay (14/7/12) - EFE
A ativista Shobhna Kumar, criadora da editora Queer Ink, voltada para o público gay (14/7/12) Imagem: EFE

Moncho Torres

18/07/2012 10h09

Os homossexuais da Índia estão assistindo à queda de mais uma barreira rumo a sua total aceitação, com a criação da primeira editora indiana focada na literatura gay, a Queer Ink, que lançará seu primeiro título no final deste mês.

Por trás do fenômeno Queer Ink está a pioneira Shobhna S. Kumar que, com 45 anos, é uma das ativistas indianas mais destacadas na luta pelos direitos da comunidade LGTB (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).

A Queer Ink surgiu como uma livraria virtual voltada ao público gay do gigante asiático e, após dois anos em funcionamento e um catálogo de mais de 500 livros - 90 deles escritos por autores indianos -, sua criadora se lançou no mercado editorial.

"Publicar (literatura LGBT) é uma necessidade, pois sabe-se muito pouco sobre a Índia gay", explicou à Agência Efe Shobhna, de Mumbai, onde há dez anos se radicou, depois que decidiu abandonar Fiji, sua terra natal, para voltar ao país de seus antepassados.

"Nosso objetivo é dar maior visibilidade à comunidade gay e mostrar portanto, apesar do que alguns pensam, que os homossexuais são uma peça importante da Índia", ressaltou a ativista.

Na Índia os travestis ("hijra") existem há séculos, inclusive nas zonas rurais, e popularmente acredita-se que possuam poderes mágicos - o que não evita que os homossexuais sejam atacados com frequência em uma sociedade eminentemente conservadora.

O primeiro livro publicado pelo editorial Queer Ink será "Out!" ("Fora!"), uma compilação de 30 relatos sobre "a nova Índia gay" nascida com a descriminalização dos atos homossexuais pelos tribunais do país em julho de 2009.

Essa descriminalização levou os escritores gays a ganhar confiança e liberdade ao publicar seus pontos de vista, declarou à agência indiana "Ians" Anita Roy, da editora feminista Zubaan.

Para Divya Dubey, diretora da editora Gyaana que falou à Efe, a mudança fez com que publicar livros de temática homossexual se tornasse uma opção normal: ela mesma, por exemplo, decidiu publicar o livro "Pink Sheep" ("Ovelha Rosa"), de Mahesh Natarajan.

"Para ser sincera, nunca o vi como um livro gay. O que torna essa obra especial é sua capacidade de transformar em algo comum o estilo de vida gay. Não se trata do 'outro', mas de gente como todos", explicou Divya.

"Pink Sheep" integra o catálogo da livraria virtual da Queer Ink, como vários títulos do "poeta gay da Índia", como é chamado Hoshang Merchant, ou de Raj Rao, que em 2003 publicou o primeiro romance indiano de cunho homossexual.

Também se destacam antologias como "Close, Too Close" ("Perto, Perto Demais"), na qual 15 escritores e artistas plásticos indianos "exploram livremente as ilimitadas possibilidades de gênero e sexualidade ao nosso redor".

Entre os nomes da obra coletiva está o desenhista Anirban Ghosh com sua Arca de Noé gay, uma pintura que reúne de homens musculosos e fetichistas até um artista idoso de barba longa branca e lésbicas maduras de classe alta.

"Trata-se de uma obra em preto e branco que chamei 'A Arca Erótica', em que se encontram vários membros da comunidade homossexual e tenta ser o mais inclusiva possível", contou Ghosh à Efe.

Segundo a editora Shobhna, a Queer Ink recebeu "um grande número de manuscritos e muitos escritores procuraram a editora, interessados em publicar", demonstrando que o nicho editorial indiano gay deve continuar crescendo.