Topo

Livro reivindica o papel das espanholas na conquista da América

Alida Juliani

22/05/2012 06h07

Fortes, intrépidas e aventureiras, assim foram as mulheres espanholas que cruzaram o Oceano Atlântico após a conquista da América e que, segundo a escritora  contribuíram para a troca racial e cultural "que mudou meio mundo".

Menéndez estudou durante anos a vida de 80 mulheres que, lideradas por Doña Mencía de Calderón, embarcaram em uma expedição, 50 anos depois da chegada de Cristóvão Colombo à América, para casar-se com os conquistadores espanhóis que estavam tendo relações sexuais com as indígenas.

Em entrevista concedida à Agência Efe na Casa da América de Madri, onde relatou as peripécias desta "caravana de mulheres", a escritora reivindica a contribuição delas para a transformação daquela sociedade nascente que se desenvolvia a milhares de quilômetros da Espanha.

"Certamente, sua história desapareceu por serem mulheres. No entanto, sua função foi muito importante, porque todas as elites posteriores descenderam delas. Sua contribuição vital e cultural transformou toda a região", sustenta Menéndez.

A área à qual a escritora se refere é a atual Assunção, capital então do que se conhecia como Rio da Prata, onde os espanhóis estavam reconhecendo os filhos que tinham com as indígenas.

"Talvez essa tenha sido uma das poucas coisas boas que fizeram, mas isso constituía um problema para a Coroa espanhola, que via seus domínios em risco", explica Menéndez.

A missão das 80 mulheres seria então "povoar, ou seja, ter descendentes, para solucionar um assunto de viés político, mas para elas também foi uma viagem interior, uma transformação, o conhecimento da liberdade, da natureza e de uma nova cultura. Muitas acabaram casadas com mestiços".

Através de uma história romanceada, "O Coração do Oceano", escrito "em um momento de crise" pela doença de sua mãe, Menéndez relata a terrível viagem que enfrentaram, com fortes tempestades, ataques de piratas e a "peste do mar", ou seja, o escorbuto.

"Das 80, conseguiram chegar mais ou menos 40, mas essas nos trouxeram provavelmente coisas tão importantes como a gastronomia de hoje, a dieta mediterrânea, a batata, o tomate e o chocolate. Também as danças e a música, uma excelente troca racial e cultural que nunca é devidamente ressaltada", explica.

Menéndez sustenta também que as integrantes daquela expedição foram, além disso, mulheres "afortunadas" que, em muitos dos casos, "escolheram viajar para escapar das restrições que, na condição de mulheres, sofriam na Espanha, em uma época na qual ainda se discutia se tinham alma ou não".

"Algumas, como a protagonista, sabiam até escrever, e após superar aquela dura viagem provavelmente enfrentariam aqueles homens de outra maneira, com personalidade e arrojo", acrescenta.

"O Coração do Oceano" surgiu como um pequeno relato destinado aos jovens, mas pouco a pouco foi sendo reeditado e ampliado à medida que Menéndez se entusiasmava em sua pesquisa.

"Agora foi filmada uma série de televisão, ainda não lançada, que me dá muita esperança, porque mostrará aquela parte da conquista que, apesar de ser terrível, nos deixou também muitas coisas boas que devemos valorizar", diz.

Envolvida em novas pesquisas, a escritora já prepara a segunda parte da história.

"Ficaria encantada em viajar para lá e descobrir novos documentos que certamente estão esquecidos. Doña Mencía escreveu um diário de viagens que deve estar em alguma parte desse continente", conclui Elvira Menéndez.