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Sorrentino apresenta em Cannes filme que procura "mostrar pobreza moral"

O escritor Dalton Trevisan em uma de suas raras fotografias - Nani Gois
O escritor Dalton Trevisan em uma de suas raras fotografias Imagem: Nani Gois

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21/05/2012 12h45Atualizada em 21/05/2012 12h54

Cannes (França), 21 mai (EFE).- Uma das cidades mais bonitas e decadentes do mundo, Roma, serve de maravilhoso cenário para Paolo Sorrentino situar uma história de personagens estranhos e vazios, liderados por um estupento Toni Servillo, com um diretor que compete em Cannes e que só procura "mostrar uma pobreza" moral.

Desta forma explicou Sorrentino em entrevista coletiva nesta terça-feira, um pouco incomodado com as contínuas perguntas sobre a similaridade de seu filme "La Grande Bellezza" com "La Dolce Vita", de Federico Fellini.

"Não acho que haja uma relação" entre a época na qual se passa "La Grande Bellezza" com a qual Fellini mostrou em seu filme.

"Eu tenho interiorizado o cinema de todos os diretores que eu gosto, meu filme fala de assuntos parecidos, mas eles não têm nada a ver", disse.

"Tratei de não imitar o grande cinema italiano, teria sido um erro inútil fazer de conta que esse cinema não existiu e acho que necessariamente influenciou toda a geração atual de diretores italianos", comentou.

Por sua vez, Servillo ressaltou que a linguagem de Sorrentino "faz referência aos diretores de antigamente", mas enquanto "La Dolce Vita" mostra uma Itália com esperança e entusiasta, "La Grande Bellezza" é centrado em "gente que vive com frivolidade" em uma cidade que "simboliza as ocasiões perdidas" e tudo isso com um tom melancólico.

"La Grande Bellezza" acompanha Jep Gambardella em seus afazeres diários por Roma, em suas entrevistas de trabalho, nas entrevistas que realiza e, sobretudo, nas festas para as quais é convidado ou as que organiza em seu terraço, com vista para o Coliseu.

Gambarella é um escritor com somente um livro - um grande êxito muitos anos atrás - que vive em um mundo centrado na busca pela beleza, diversão, o relaxamento, e tudo o que suponha um prazer, mas que dê pouco trabalho.

Toni Servillo atua novamente em um filme de Sorrentino e realiza, como habitual, uma fantástica interpretação, com um personagem que pretende ser mais vazio do que é e que usa a ironia como escudo contra tudo e contra todos.

O filme é rodado com um extremo preciosismo e Roma aparece através de lugares conhecidos e de cantos muito menos reconhecíveis, que servem para situar os personagens em entornos que facilitam essa vida fácil.

"Sempre anotei pequenas lembranças sobre a multidão de coisas ligadas a Roma e a ideia era que todas essas lembranças acabassem por formar um filme", explicou Sorrentino, um napolitano que viveu sua juventude na capital italiana.

E através dessas imagens de Roma, o que o diretor construiu é um filme que não "tenta contar, mas expressa uma pobreza que não é material, mas de outro tipo", espiritual e moral. Mas não é centrado apenas nisso.

"O protagonista é uma testemunha do mundo" e através de sua biografia representa uma história, a das pessoas que perderam alguma coisa e que traram de recuperá-las, explicou Servillo.

Um filme que o diretor considera que tem uma clara vocação internacional porque os personagens têm problemas enfrentados em qualquer outro país.