Topo

Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva emocionam Cannes com "Amour"

20/05/2012 12h56

Alicia García de Francisco.

Cannes (França), 20 mai (EFE).- Os veteranos Jean-Louis Trintignant, de 81 anos, e Emmanuelle Riva, de 85, emocionaram neste domingo o público presente no Festival de Cannes e se mostram claramente favoritos aos prêmios de interpretação do evento com uma história nada complacente, "Amour", do austríaco Michael Haneke.

É um filme sobre a velhice, sobre o amor entre um casal que começa a viver uma fase tão avançada da vida e como ambos se ajudam num momento difícil, sem deixar que ninguém de fora entorpeça o caminho que lhes resta para percorrer. Não trata do romantismo do amor, mas da necessidade de auxílio recíproco de um casal.

Menos ambicioso que "A Fita Branca", vencedor da Palma de Ouro de 2009, "Amour" marca o retorno de Haneke à Côte d'Azur. "Nunca faço um filme para demonstrar algo. Se chegamos a certa idade, estamos obrigatoriamente confrontados com o sofrimento, dos pais, dos avós, de outros parentes...".

O diretor considera o sofrimento como algo natural, que ele próprio já teve de lidar dentro de sua família, fato que representou o ponto de partida para este filme, cujo objetivo, segundo ele, "não é criar um debate social".

É um filme que, embora nada complacente, aborda a ternura que surge da cumplicidade entre um casal que passou toda a vida junto.

Os personagens de Trintignant e Emmanuelle dão uma lição de dignidade e, apesar de tudo, não se deixam levar pelo giro final de suas vidas quando ela sofre uma paralisia.

O ator, que já ganhou o prêmio de Melhor Ator em Cannes em 1969 por "Z", de Costa Gavras, recebeu neste domingo calorosos aplausos ao chegar à entrevista coletiva de apresentação do filme, e se mostrou tão emocionado como brincalhão.

"Michael é um dos melhores diretores do mundo. Tive a oportunidade de trabalhar com ele, que me disse que talvez não haveria outra", declarou Trintignant, que diz se sentir, pela primeira vez na vida, satisfeito com seu trabalho. "É pretensioso, mas me perdoem".

Para ele, atuar em "Amour" foi "muito doloroso", um trabalho "muito, muito difícil de fazer", mas que lhe deu "grande felicidade".

"Nunca encontrei um diretor tão exigente. Tem o filme na cabeça e conhece muito bem toda a técnica do cinema", ressaltou o ator, antes de acrescentar com um sorriso: "não o aconselho a ninguém".

Emmanuelle, que interpreta uma mulher em incessante deterioração moral, explicou que, no início, pensava que não conseguiria se colocar na pele de Anne, mas que pouco a pouco entrou no personagem "de forma natural e com uma paixão muito forte".

Tanto que não queria deixar de ser Anne quando a tomada terminava - "cada vez ela levava meia hora para se recuperar", lembrou Trintignant - e até dormia junto ao local das filmagens para ficar em contato permanente com ele, "mas sem nenhuma tristeza", pois não estava arrasada na vida real.

Sobre isso, Haneke destacou que, para os atores e o diretor, é muito mais difícil assistir ao filme, assistir na tela, do que fazer o trabalho. "Não temos piedade dos personagens (durante as filmagens)", declarou o cineasta. Para ele, quem sofre é o espectador ao ver o resultado.

"Nós estamos aí para criá-los da forma mais eficaz. É um pouco romântica a ideia de que, ao fazer um filme trágico e triste, nós estamos tristes", esclareceu.

E, para Haneke, essa forma mais eficaz passa principalmente pelo som, como indicou Trintignant e reconheceu o diretor. "Michael é muito sensível e é a primeira vez que vejo um diretor tão atento ao som, a sua precisão", afirmou o ator.

Haneke admitiu que trabalha "mais com os ouvidos do que com os olhos". Para ele, é mais fácil saber se algo soa falso simplesmente ouvindo o ator.

Junto ao casal protagonista, o único personagem de maior presença é o de Isabelle Huppert, que interpreta Eva, filha de ambos, uma mulher um tanto fria e distante que vive o drama de seus pais de uma forma particular.

"Não acho que meu personagem seja cruel - disse Isabelle em resposta a uma pergunta dos jornalistas -, mas a situação. Há algo que separa inexoravelmente os mortos dos vivos. Há duas velocidades que são contraditórias, que não podemos compreendê-las, e isso é o cruel".