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Em visita ao Rio, vencedor do World Press Photo revela seu lado militante

Imagem de Samuel Aranda, que venceu o World Press Photo -  Samuel Aranda/New York Times
Imagem de Samuel Aranda, que venceu o World Press Photo Imagem: Samuel Aranda/New York Times

Santi Carneri

10/05/2012 22h40

Rio de Janeiro, 10 mai (EFE).- O fotógrafo espanhol Samuel Aranda, agraciado neste ano com o prestigiado prêmio de fotojornalismo World Press Photo, se considera "mais um militante do que um fotógrafo" e destaca a necessidade de se conectar com as pessoas retratadas em suas imagens.

Ele ressalta que precisa se sentir envolvido "inclusive em nível político", e, por isso, não faz fotografias de moda.

Em entrevista à Agência Efe no Rio de Janeiro, Aranda comenta seu reencontro no Iêmen com os protagonistas da foto que venceu a última edição do World Press Photo, uma imagem que mostra um homem ferido nos protestos da Primavera Árabe contra o governo do país árabe abraçado por uma mulher de véu.

"Foi um dos momentos mais enriquecedores de minha vida", são as palavras de Aranda sobre o reencontro com as pessoas retratadas na imagem, publicada pelo jornal "The New York Times". "Abriram as portas de sua casa para mim, conheci toda a família, até fizeram um bolo para mim. Foi uma lição de humildade que a vida me deu, uma história muito bonita".

Ele acredita que, para seguir muitos anos como fotojornalista, "é necessário um compromisso com o que se fotografa, como o têm os espanhóis Gervasio Sánchez e Emilio Morenatti, que estão há muitos anos trabalhando duro".

"Não sou um fotógrafo do front de batalha. Sempre estou um passo atrás, onde em qualquer conflito também há histórias muito interessantes e mais íntimas", destaca.

Embora enfatize que não trabalha para ganhar prêmios, reconhece que o World Press Photo lhe abriu muitas portas e revela que pretende agora realizar um novo projeto retratando a transição dos países que percorreu neste último ano "mostrando o lado positivo das sociedades árabes".

Ao falar sobre a ética no trabalho, Aranda ressalta que há uma linha muito marcada para defini-la. "Nós, fotojornalistas, devemos documentar o que vemos em silêncio e sem intervir no que está acontecendo. Há um problema quando alguns armam farsas, retocando ou eliminando pessoas das imagens. Isso é perigoso".

Ele aconselha aos que querem se dedicar ao fotojornalismo que aceitem o trabalho como árduo e cansativo - "uma maratona" - e fala sobre seu próprio exemplo, ao dizer que lhe custou cerca de 12 anos para conseguir "um pouco de estabilidade e continuidade no trabalho".

Aranda participou nesta quinta-feira de um debate no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro com o fotógrafo argentino Alejandro Kirchuk, também agraciado no World Press Photo por seu projeto sobre o mal de Alzheimer.

Kirchuk ganhou o prêmio na categoria Vida Cotidiana por uma série de fotos que mostram os últimos anos de vida de sua avó, que sofria de Alzheimer, e dos cuidados que seu avô lhe deu até o dia de sua morte.

"Este projeto me serviu para passar mais tempo com eles e me aproximar da profunda história de amor que me encontrei", declara à Efe o jovem fotógrafo argentino, de 25 anos.

Kirchuk concorda com Aranda sobre a necessidade de um compromisso e vínculo pessoal para se conseguir conteúdo de valor nas imagens. "Boas fotos podem ser feitas a qualquer momento, mas, para se conseguir mais profundidade, é necessário algo mais".

"Minha intenção e vocação não mudam em absoluto após o prêmio. O que muda é que se abrem portas que, de outra maneira, seriam mais difíceis de serem abertas", ressalta.

Formado em uma escola de fotografia "de tendência artística" e na Escola de Fotojornalismo de Buenos Aires, Kirchuk busca agora levar adiante dois novos projetos "muito pessoais", um sobre a família de um amigo que acaba de ter um filho e "de como esse nascimento altera a dinâmica familiar" e outro sobre o futebol como fenômeno social e cultural na Argentina.