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"A poesia, boa e ruim, está em todas as partes", diz Affonso Romano

Roberto Rojas Monroy.

Bogotá

26/04/2012 16h05

O poeta brasileiro Affonso Romano de Sant'Anna, em entrevista à Agência Efe, admitiu nesta quinta-feira (26) que lê poetas bons e ruins, já que estes últimos também "podem nos ensinar como não escrever poesia".

Romano é um dos quase 50 escritores, poetas e dramaturgos brasileiros que participam da Feira Internacional do Livro de Bogotá (Filbo), onde o Brasil aparece como o convidado de honra deste ano.

O autor de "Poemas Para a Amiga", "O Corpo Exige" e "Como se Faz Literatura" e de ensaios como "Sobre a atual vergonha de ser Brasileiro", Romano defendeu que a poesia, boa e má, está em toda a parte.

"Não há cultura sem poesia", afirmou o poeta brasileiro, que ressaltou que "até mesmo os iletrados e analfabetos possuem poesia". Segundo Romano, "há multiplicação de poetas e poesia por todas as partes", o que significa que esta arte é uma "função da mente humana" e tão importante como "um bem material".

Em seu caso, refletiu: "Não sei exatamente se sou ensaísta ou jornalista (...) poderia dizer que basicamente sou um poeta e sabe que a poesia está na base de tudo o que faz", inclusive "nos ensaios da administração pública".

O autor de "Morte do amor" e "Fascinação" recomendou aos poetas jovens o desafio de "descobrir qual é sua verdadeira voz".

"Um artista quando começa cantar imita a voz de outro artista mais famoso. A tendência de um escritor e de um artista é imitar a escritura de um mestre. Isto é muito fácil. Um pode fazer paráfrases, outro pode fazer paródia, mas o mais difícil é saber qual é 'sua verdadeira voz'".

Segundo o poeta, esse é "um exercício literário e também existencial", já que permite configurar "sua maneira de ver o mundo" e emitir "uma mensagem muito própria e particular".

Romano lembrou que fez um projeto na Biblioteca Nacional para "criar uma biblioteca em cada cidade brasileira" e considerou que "esse é um sonho de poeta".

O poeta argumentou que a cultura brasileira "deve acompanhar o desenvolvimento industrial e econômico" de seu país.

"A tendência natural dos brasileiros é estar envolvidos em si mesmos. Mas, é necessário iniciar uma política cultural para que as pessoas saiam do país e tenham um diálogo maior com a América Latina e com a Europa", indicou o poeta, nascido em 1937, em Belo Horizonte.

Desta forma, Romano sugeriu "aproveitar uma metáfora que os espanhóis criaram e que também é uma realidade urbanística: "a ideia de uma praça maior", de entendimento entre Brasil, seus países vizinhos e Europa.

Sobre o atual panorama político, Romano assinalou sem titubear que "é o mundo ao revés", ressaltando que "há uma coisa historicamente muito significativa".

"No Brasil, a presidente é uma ex-guerrilheira; no Uruguai, um ex-guerrilheiro; na Argentina, a senhora Kirchner e seu marido foram 'montoneiros', e no Chile, a senhora Bachelet é filha de um general exilado e ela mesma foi exilada", afirmou o poeta.

"No Paraguai", prosseguiu, "há um padre; na Bolívia, um dirigente cocaleiro; na Venezuela, uma aberração: um general de esquerda, e nos Estados Unidos, um negro. Se uma pessoa que morreu há 30 anos ressuscitasse hoje não entenderia nada (...) Esse é o mundo ao revés", explicou o poeta.

Do ponto de vista antropológico, o poeta brasileiro disse à agência Efe que não tem "nenhuma dúvida que os homens têm à guerra como amante. "Os homens amam a guerra", afirmou Romano, que ainda falou sobre sua teoria da violência como condição humana.

"A guerra é presente na história da humanidade desde os gregos, antes dos gregos e até hoje, com um país militarizado como os Estados Unidos, que é um país muito desenvolvido e que tem o Exército mais potente. A guerra infelizmente pertence ao DNA do ser humano", assegurou.

"Este Senhor que fez as coisas e que se chama Deus cometeu alguns equívocos quando fez o ser humano. Os homens são um perigo", ressaltou o poeta que acrescentou: "os homens são uma ameaça de si mesmos. Os homens são uma tragédia e temos que corrigir esse DNA".