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Documentário defenderá o peruano Paulet como pioneiro da astronáutica

09/04/2012 10h06

Fernando Gimeno.

Lima, 9 abr (EFE).- Um documentário tenta conceder ao peruano Pedro Paulet o pioneirismo na astronáutica e questionar as razões do ostracismo ao qual a Alemanha e a Nasa lhe condenaram ao negar a criação do motor de combustível líquido, usado pelos mísseis militares e os foguetes espaciais.

Após oito anos de pesquisa, o cineasta Álvaro Mejía se prepara para dirigir "En busca de Ordway", que tenta um encontro com o norte-americano Frederick Ordway, o cientista da Nasa que em 1969 ditou uma conferência na Argentina para desacreditar Paulet como precursor dos desenhos americanos do Apolo XI, que levou o homem a pisar na Lua.

Mejía declarou à Agência Efe que a influência de Paulet (1874-1945) é incontestável pela existência de provas de seus trabalhos dentro da Sociedade Astronômica Alemã, da qual foi membro o cientista Wernher von Braun, que desenhou os mísseis V2 para o Exército nazista e mais tarde os foguetes da Nasa na corrida espacial.

"Como Paulet não encontrou atenção no Peru, buscou na Alemanha, onde foi muito reconhecido entre 1927 e 1932, quando publicou uma carta no jornal 'El Comercio' do Peru para afirmar que tinha criado o motor de combustível líquido 30 anos antes de a sociedade científica alemã anunciar sua tentativa de buscá-lo", explicou.

Segundo Mejía, a chegada de Adolf Hitler ao poder na Alemanha representou o começo de uma série de interesses e "meias verdades" para se apropriar da invenção de Paulet, cujos documentos e planos na Alemanha "devem ter passado à União Soviética através de um espião chamado Alexander Boris Scherchevsky".

Isto aconteceu porque "Hitler sequestrou os arquivos da Sociedade Astronômica Alemã" e agora "os alemães defendem o austríaco Max Valier como pai da astronáutica, mas não querem reconhecer que foi Valier que previamente tinha reconhecido Paulet como pioneiro".

"Quando Ordway orientou a história da astronáutica em 1969, durante a Guerra Fria, descartou Paulet como pioneiro dos motores de combustível líquido", considerando o americano Robert Roddart, que lançou um foguete em 1926 mas não publicou seus estudos, que também não chegaram à Alemanha, explicou Mejía.

O diretor do documentário também acredita que o reconhecimento de Paulet por parte da Nasa representava nesse momento lembrar sua influência na Alemanha e expor de novo o passado nazista de Von Braun, quando já era uma figura pública nos Estados Unidos.

Por isso ele prevê que "Ordway reafirmará o que disse na época, mas a intenção é apresentar todas as evidências que indicam Paulet como o pioneiro da astronáutica".

Paulet, acrescenta o diretor, "tinha uma personalidade germânica, admirava a Alemanha e escrevia muito, embora talvez tenha faltado um ambiente melhor para seu desenvolvimento no Peru".

Ele foi um homem multifacetado nascido em 1874 em Arequipa, dentro de uma eclosão cultural e científica que a cidade vivia, e que além da astronáutica, também projetou grandes edifícios na floresta, foi reconhecido como economista na França e antecipou em um livro a decolagem econômica do Japão no século XX.

O projeto do documentário que Mejía prepara ganhou um dos prêmios anuais do Ministério da Cultura, dotado com um financiamento de US$ 56 mil.

O diretor se encontra em processo de pré-produção com a digitalização de planos, fotografias e outros documentos, e nos próximos meses começará a gravar as primeiras cenas dramatizadas da vida de Paulet.

O Governo regional de Arequipa também colaborará com a realização do documentário e a Força Aérea Peruana (FAP) tem a intenção de reconstruir o motor desenhado pelo engenheiro, que começa a ter as invenções resgatadas do esquecimento.