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Javier Moro afirma que críticos brasileiros têm "complexo de colonizados"

Santi Carneri

Rio de Janeiro

28/03/2012 18h14

O escritor espanhol Javier Moro, que está no Brasil para apresentar seu novo livro, "O Império é você", acredita que há intelectuais brasileiros que "têm um complexo de colonizados muito grande" e por isso se sentem mal por um estrangeiro contar "a história que pensam que lhes pertence".

"Certos intelectuais brasileiros, assim como na Índia, têm um nacionalismo febril que é absolutamente deplorável e que é resquício da mentalidade de colonizado", disse Moro em entrevista à Agência Efe.

O autor, que ontem à noite apresentou no Rio de Janeiro seu novo romance, viaja hoje a Brasília para continuar promovendo o livro, que recupera o papel fundamental do imperador Pedro I na história do Brasil.

"Ainda te veem como se fosse tirar-lhes algo e não que vá apresentar o conhecimento mútuo de dois povos. Para isso serve também a literatura, para conhecer-se melhor", refletiu o escritor, nascido em Madri em 1955.

Moro foi alvo de críticas por parte de escritores e historiadores brasileiros há algumas semanas quando começou a divulgação de seu romance no país.

O jornalista Laurentino Gomes, autor dos best-sellers "1808" e "1822", qualificou Moro recentemente como "exemplo do neocolonialismo cultural da Espanha no Brasil", em declarações ao jornal "O Globo".

Moro contestou que "é preciso ser bobo para dizer uma coisa assim" e que Gomes se sentiu mal porque um estrangeiro entrou "naquele que ele acredita ser seu jardim".

"Meu livro foi escrito de uma perspectiva e uma distância que permite contar a história do Brasil para ser lida no exterior, longe de disputas políticas locais", destacou o autor.

"Laurentino Gomes disse coisas absolutamente injustas que provam que não leu meu livro, porque caso contrário, não teria dito o que disse", acrescentou.

"É tão grosseiro e tão ridículo que o que mostram é que não gostam que venham de fora para contar sua história, acham que é deles, mas a história do Brasil não pertence a ninguém, pertence a todos", continuou o escritor espanhol.

Javier Moro define sua última obra como uma "história romanceada" porque os diálogos foram recriados, e ressalta que se trata de uma interpretação pessoal da história.

"Quero deixar claro que não é uma fantasia histórica, não é um romance histórico, aqui não há personagens de ficção. Isto é história romanceada que segue muito de perto os fatos históricos", detalhou.

Segundo Moro, "a história não é uma ciência exata e está muito condicionada pela visão de quem a escreve, seja um historiador ou um literato".

As duras críticas no Brasil a sua obra fizeram-no lembrar da perseguição a outro de seus livros por setores nacionalistas indianos que queimaram em várias cidades fotografias suas e páginas do livro "O Sári Vermelho".

O escritor considera que seu romance ajudará os dois países a se entenderem, já que "os espanhóis não sabiam nada de Pedro I nem da história do Brasil e de Portugal, muito interligada" com a da Espanha.

"O Império é você" vendeu mais de 400 mil cópias na Espanha e foi lançado também na Argentina, Uruguai, Equador, Colômbia, Venezuela, Chile, Peru e México.