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Tabucchi, uma referência literária europeia seduzida pela obra de Pessoa

25/03/2012 13h57

Antonio Torres del Cerro.

Lisboa, 25 mar (EFE).- Apaixonado pela obra do poeta português Fernando Pessoa, o italiano Antonio Tabucchi, que morreu neste domingo aos 68 anos em sua querida Lisboa, era considerado um dos escritores europeus mais lúcidos das últimas décadas.

Nascido na província de Pisa em 24 de setembro de 1943, perto da cidade de Vecchiano, o autor de "Afirma Pereira" (1994) e "A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro" (1997) sentiu um radical giro em sua vida quando descobriu casualmente um exemplar do poema "Tabacaria", de Pessoa, enquanto passeava junto ao rio Sena, em Paris.

Então na casa dos 20 anos, Tabucchi, que estudava Filosofia e Letras na Universidade de Pisa, decidiu viajar na metade do curso de carro à capital portuguesa, onde sentiu o feitiço de uma cidade envolvida em uma misteriosa bruma marítima e em uma cálida luz branca.

Desde então, estabeleceu-se um cordão umbilical entre o literato italiano e Portugal, que nunca mais se rompeu. Seu entusiasmo por Pessoa o levou a se transformar em um dos melhores conhecedores de sua obra e no principal divulgador da mesma na Itália.

"A Pessoa devo, em primeiro lugar e principalmente, a fé no gênero novelesco, porque através de sua poesia construiu na realidade um universo novelesco", disse em entrevista o próprio Tabucchi.

Após se formar em 1969 com a tese "O Surrealismo em Portugal", foi nomeado em 1973 professor de Língua e Literatura Portuguesa em Bolonha, quando começou a escrever seu primeiro romance, "Piazza d'Itália", publicada em 1975.

Na universidade de Gênova, em 1978, seguiu com sua incansável produção com o "O Jogo do Revés" (1981), "Dama de Porto Pim" (1983) e "Noturno Indiano" (1984), entre outras obras.

Comprometido politicamente em favor da liberdade e dos direitos humanos, seus trabalhos se movimentam no reino do assombro, do humor e da ambiguidade a partir de observações agudas da vida cotidiana, segundo a crítica.

Tabucchi se caracterizou sempre por sua consciência reivindicativa, e foi muito crítico com o governo do presidente italiano Silvio Berlusconi; em 2008 foi processado pelo presidente do Senado, Renato Schifari, após publicar um artigo no qual perguntava ao político por seu passado, seus negócios e seus amigos; um deles, o próprio Berlusconi.

O sucesso internacional veio nos 90 com "Afirma Pereira", uma história sobre um tranquilo jornalista cuja vida dá voltas quando contrata um combativo jovem. A história chegou ao cinema protagonizada pelo lendário Marcello Mastroianni.

Colaborador de prestigiosos jornais na Itália e Espanha, também cultivou o gênero epistolar com "Está a Fazer-se cada Vez mais Tarde" (2001).

Com uma obra traduzida para mais de 18 idiomas, na última década publicou "Tristano Morre" (2004) e "O Tempo Envelhece Depressa" (2009), e recebeu inúmeros prêmios.

Doutor Honoris Causa em 2007 pela Universidade belga de Liège, Tabucchi passava seis meses do ano entre Lisboa e a Toscana, e tem um livro ainda a ser publicado, um conjunto de nove histórias relacionadas com o passar do tempo.