Peças de teatro argentinas revivem drama humano por disputa das Ilhas Malvinas
Quatro peças de teatro revivem nos palcos de Buenos Aires o drama da Guerra das Malvinas para abrir uma reflexão sobre o lado mais absurdo e obscuro do conflito entre Argentina e Reino Unido há 30 anos.
Com medo de morrer defendendo a soberania argentina sobre o arquipélago, seis jovens soldados decidem desertar e se refugiam em uma caverna nas gélidas e remotas ilhas Malvinas.
Este é o ponto de partida de "Piedras dentro de la piedra" (Pedras dentro da pedra), peça teatral escrita e dirigida por Mariana Mazover, que se inspirou em trechos do romance "Os Pichicegos", do argentino Rodolfo Enrique Fogwill.
"A obra narra a vida desses seis soldados entrincheirados, esperando que a guerra termine. O conflito se constrói em torno do medo de sejam descobertos e fuzilados ou que sejam levados pelos ingleses como prisioneiros", conta Mariana à Agência Efe.
Com um tom essencialmente dramático e com pinceladas de humor e absurdo, a obra reflete a falta de proteção desses jovens e seu desejo de viver, com elementos curiosos como o fato de dois dos soldados serem mulheres - algo que não ocorreu na realidade -, o que permite explorar a relação entre amor e guerra.
Entre os desertores, também há um civil que vai à linha de combate como voluntário, metáfora de um "patriotismo que encorajou a guerra de forma irrefletida e que fez da Argentina uma sociedade filicida, que mandou seus filhos à guerra", nas palavras da diretora.
"O teatro permite reabrir perguntas sobre o que aconteceu. Esta obra trata do homem confrontado à possibilidade de sua morte por causas que lhe são alheias, submetido à maquinaria da guerra da qual não há possibilidade de escapar", destaca Mariana, de 32 anos, que ainda lembra a preocupação de sua família por um tio que teve de combater na guerra.
Experiência muito parecida tem Diego Quiróz, de 38 anos, que escreveu e dirige "Los Tururú", obra que também aborda desertores como personagens principais e que também se inspira no romance de Fogwill, assim como em "Nada de Novo no Front", do alemão Erich Maria Remarque.
Nesta obra, os desertores argentinos negociar com ambos os lados para garantir sua sobrevivência, traindo uns e outros.
"A obra fala da despersonalização e do medo de morrer", diz à Agência Efe o realizador Quiróz, que também participa da direção de "1982, Obertura Solemne" (1982, Abertura Solene) junto a Lisandro Fiks, autor da obra.
Esta peça, ambientada no pós-guerra, um casal recebe de modo inesperado um convidado que se apresenta como um suposto herói das Malvinas. A obra leva o espectador a se confrontar com suas próprias ideias e convicções sobre o conflito armado, ocorrido entre abril e junho de 1982, com um saldo de 255 mortos britânicos, três ilhéus e 649 argentinos.
"Com essas duas obras, tentamos apresentar a memória, a verdade e a justiça de um olhar ficcional", assinalou Quiróz.
A mesma intenção tem o diretor Esteban Massari com "Queen, Malvinas", escrita por Agustín María Palmeiro. Em um relato cru, um jovem soldado, paradoxalmente fã da banda britânica Queen, compartilha com um companheiro de guerra suas experiências de vida mais profundas e ambos prometem voltar a se encontrar no continente após o fim da guerra, algo que jamais ocorre.
Esperando o ataque final dos britânicos, ambos - doentes, desnutridos, mal equipados e mal treinados - fazem guarda noturna em uma fria trincheira em Monte Longdon, palco de uma das mais sangrentas batalhas da guerra.
O diretor de "Queen, Malvinas" ressalta à Efe que a obra representa "uma forte reflexão sobre esta barbárie cometida pela ditadura militar" que então governava a Argentina e que resolveu ir à guerra "contra a segunda maior potência bélica do mundo".
"A obra se centra no lado mais humano, o desses meninos angustiados que esperam que os ingleses não venham... mas vêm. A guerra é a analogia da morte e, por fim, a morte finalmente ocorre", sintetiza Massari.
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