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Testamentos de grandes personalidades italianas são reunidos em exposição em Roma

Carmen Postigo

15/02/2012 06h05

Os grandes personagens italianos foram, em geral, muito modestos em seus últimos desejos, assim como os destinos de seus corpos e seus funerais, segundo uma exposição de 25 testamentos manuscritos que será inaugurada nesta quarta-feira, em Roma.

"Meu cadáver será queimado com lenha de Caprera no lugar por mim indicado por uma barra de ferro, será fechado em uma urna de rocha e colocado no túmulo dos meus filhos sob o sobreiro ali existente".

  • EFE

    Testamento de Giuseppe Garibaldi é exposto em Roma (14/02/12)

Estas foram as últimas vontades do revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, nascido em Nice, em 1807, e morto na ilha de Caprera (Sardenha), em 1882. Garibaldi também pediu para ser vestido com uma "camisa vermelha", a mesma que caracterizou suas lutas, como a Revolução Farroupilha, no Brasil, e outras façanhas na Itália.

Os testamentos de 25 italianos ilustres formam uma exposição que será exibida a partir desta quarta-feira no Museu Histórico Capitolino de Roma. Aliás, essa mostra faz parte das celebrações dos 150 anos de Unidade da Itália e é organizada pelo Conselho Nacional e pela Fundação italiana do Notariado.

Trata-se de manuscritos históricos, cuja caligrafia reflete também a mão firme dos que escreveram antes que a doença os invadisse. Os escritos também foram redigidos por mãos trêmulas, comprometidas pela fraqueza e pelo medo da morte, como no caso do valente Garibaldi.

O músico e compositor romântico Giuseppe Verdi (1813-1901), autor de Rigoletto e La Traviata preferiu o silêncio: "Que meus funerais sejam modestíssimos e se façam ao nascer do dia e que a Ave Maria seja rezada sem cântico e sem músicas".

Apesar de estranho, o desejo de Verdi foi atendido depois de sua morte em Milão, em 1901. Na ocasião, milhares de pessoas acompanharam o velório do músico sem dizer uma palavra.

Outros desejos eram mais duros, como os de Luigi Pirandelo, Prêmio Nobel de Literatura. Atormentado pela situação de sua mulher, que sofria uma grave doença mental, pediu que ninguém acompanhasse seu velório, nem mesmo os "parentes e amigos. Era só o cavalo e o cocheiro".

Pirandelo também deixou claro em testamento que sua vontade era ser cremado. O escritor, inclusive, queria que até suas cinzas fossem despejadas, porém, esse desejo não acabou sendo atendido, já que seus restos mortais ainda estão guardados.

O primeiro presidente da República da Itália, Enrico Da Nicola (1877-1959), também não teve seu desejo realizado. Nicola pediu para não ser lembrado "em nenhum momento, em nenhum lugar e por nenhuma razão, porém, atualmente seu nome pode ser encontrado em instituições, parques e avenidas.

O dramaturgo e político Gabrielle D'Anunzio queria que seu funeral fosse realizado em um Monumento de Roma, deixando esse desejo sob custódia de seu "irmão de armas", Benito Mussolini.

Além de heranças econômicas, também há heranças afetivas e espirituais, como a do empresário e máximo acionista da Fiat, Giovanni Agnelli (1921-2003).

Agnelli recomendou aos seus herdeiros que deviam "permanecerem unidos, lembrando que o maior consolo na vida é o amor à pátria, a coesão familiar, a retidão e o respeito pelo trabalho humano".