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Australianos homenageiam Charles Dickens no bicentenário de nascimento do escritor

Rocío Otoya

07/02/2012 09h10

Os australianos têm lembrado nos últimos dias as referências a seu país na obra e vida de Charles Dickens, durante a comemoração do bicentenário de nascimento do romancista britânico que imortalizou a Inglaterra vitoriana.

Entre outras manifestações em homenagem ao escritor, um grupo de 200 pessoas se reuniu nesta terça-feira, no dia do bicentenário, ao redor da estátua do romancista inglês no Parque Centenário de Sydney, embora essa atitude fosse contra os desejos expressados pelo autor de "Oliver Twist" antes de sua morte, em 1870.

"Eu peço aos meus amigos que de maneira nenhuma façam uma estátua minha, monumento ou testemunha de qualquer tipo", citou as palavras de Dickens a atriz de origem britânica Miriam Margolyes, conhecida internacionalmente por interpretar na saga de "Harry Potter" a professora Pomona Sprout.

"Estamos fazendo exatamente o que ele não queria, e não me importa porque essa estátua é uma inspiração para quem a contempla", acrescentou a atriz.

A paixão que Dickens desperta nos australianos é semelhante a que em outras partes do mundo sentem pelo talvez melhor escritor britânico do século 19.

O autor de "Um conto de duas cidades" nunca foi à Austrália, mas tinha planos de fazer uma visita literária em 1862 e escrever um livro de viagens, de acordo com o Dicionário Australiano de Biografias.

Sua obra, no entanto, contém diversas referências à Austrália e ele mesmo incentivou seus filhos, Alfred D'Orsay Tennyson e Edward Bulwer-Lytton, a viajar a esse país em busca de novas oportunidades.

Para a então colônia penal britânica foram enviados vilões como Abel Magwitch ("Grandes Esperanças"), John Edmunds ("Os documentos póstumos do Clube Pickwick") e Wackford Squeers ("O Herói da Família").

"Acho que a Austrália era um lugar conveniente para mandar esses personagens de caráter duvidoso", opinou Shale Preston, professora da Universidade Macquarie em Sydney e integrante da Irmandade Internacional Dickens, segundo a emissora de televisão ABC.

"Ele viveu em uma época em que as pessoas eram constantemente enviadas à Austrália e isso era uma ferramenta prática para se desfazer de seus personagens", destacou a acadêmica.

Mas não foram apenas os personagens ruins que seguiam para a Austrália, já que em meados de século 19 o país começou a se transformar em um eldorado para a imigração, principalmente após o descobrimento de grandes jazidas de ouro.

Essa mudança histórica da Austrália fica marcada na obra de Dickens. Em "David Copperfield", o escritor levou vários personagens para Nova Gales do Sul, no leste da Austrália. Eles foram "os Micawbers, o senhor Peggotty e a pequena Emily, além da senhora Gummidge", detalhou Marion Diamond, fã do escritor.

A Austrália também teve sua importância na vida pessoal do autor de "Um conto de Natal", indicou Shale. Dickens fundou um abrigo para ajudar mulheres marginalizadas, "durante um ano elas aprendiam habilidades manuais e depois desse período podiam ser enviadas à Austrália para buscar uma vida melhor", comentou a professora.

Os dois filhos do criador de "Tempos difíceis" seguiram os conselhos do pai. Alfred viveu na Austrália durante 45 anos: comprou um rancho em Nova Gales do Sul, depois se mudou para Victoria e se casou com Augusta Devlin, conhecida como "A bela de Melbourne", com quem estabeleceu uma fazenda de pecuária.

Edward, o mais novo, ficou em Nova Gales do Sul, foi administrador de propriedades, legislador durante cinco anos e acabou morrendo na indigência.