Topo

HQ enfrenta pirataria para buscar inovações no universo digital

Javier Albisu

02/02/2012 06h07

A adaptação da história em quadrinhos para formatos digitais e a transformação das tirinhas em direção à linguagem multimídia abrem novas perspectivas para o setor editorial mais atingido pelos downloads piratas.

"A história em quadrinhos vai ser digital no futuro, porque os novos sistemas informáticos, como os tablets, são ideais para as histórias em quadrinhos", explica à Agência Efe Álvaro Pons, curador da mostra "Comics. A História em Quadrinhos Espanhola", que será exibida até o domingo no Festival Internacional da História em Quadrinhos de Angulema (França).

"Essa reconversão obrigará os autores a mudarem a linguagem e a maneira de fazer histórias em quadrinhos, embora essa transição não aconteça de forma violenta pela própria natureza da história em quadrinhos, a base de muito desenho e textos curtos", acrescenta Pons, que também é responsável pelo site (lacarceldepapel.com).

No entanto, grande parte da oferta digital de histórias em quadrinhos se limita a oferecer uma cópia digital do formato impresso, que, por sinal, não é muito mais econômica do que a versão em papel.

O autor e editor Joaquim Aubert Puigarnau, conhecido como Kim, (Prêmio Nacional da História em Quadrinhos em 2010) propõe que os preços sejam adaptados em relação à edição digital ou que sejam criadas tarifas fixas para os usuários acessar o conteúdo exclusivo das editoras.

Aliás, algumas editoras já se lançaram na conquista deste novo mercado, como a Panini, Hachette e Inzeo. Esta última oferece aos leitores a possibilidade de ler até 15 obras ao mês em "streaming", custando 15 euros.

"O que não faz sentido é que as pessoas fiquem multimilionária, como os da MegaUpload, e você deixa isso passar para vender histórias em quadrinhos dois euros abaixo do preço da edição de papel", assinala Kim.

Segundo um recente estudo publicado pelo observatório francês Le Motif, a história em quadrinhos é "a categoria editorial mais pirateada na internet", com uma oferta global de entre 35 mil e 40 mil títulos na rede, sendo que 8 mil e 10 mil volumes são de fácil acesso.

O relatório também mostra que existem "equipes" de piratas que publicam na Rede "pacotes" inteiros com a coleção completa de Asterix ou de Tintim, por exemplo.

Embora não seja alarmante, trata-se de uma preocupação crescente no setor e, por isso, o Festival de Angulema apresenta dois debates específicos neste tema.

Segundo um estudo do instituto de marketing Ipsos, em 2011 foi vendido aproximadamente 33 milhões de quadrinhos na França, dos 4.663 títulos que foram publicados. Este número representa um novo recorde, já que o índice espanhol, registrado em 2008, apresentava a publicação de 3.115 volumes.

O Agrupamento de Livrarias Especializadas em História em quadrinhos da França se mostra sensível ao problema e entendem que a "fraqueza do mercado" se deve a "a ausência de uma oferta editorial verdadeiramente atrativa e adaptada".

"O futuro está aí, nos tablets. Poderia até dizer que eles foram fabricados para nós. Mas, a solução é buscar algo mais que uma simples mudança, como a criação de desenhos mais interativos", acrescenta Kim, que destaca o trabalho de Jorge González em "Dear Patagonia", um quadrinho que conta com uma versão para tablets com informações extras e músicas.

É uma proposta que segue a mesma linha de Art Spiegelman, uma das referências do mundo da história em quadrinhos e autor do romance gráfico sobre o Holocausto ("Maus"), que resultou no prêmio Pulitzer em 1992.

Em seu novo livro "MetaMaus", onde analisa o processo criativo de sua obra cúpula, o americano e presidente do júri de Angulema inclui uma versão digital e interativa de "Maus" para tablets, a qual inclui entrevistas, cadernos especiais e outros elementos pelo mesmo preço da edição física.

"Evidentemente o futuro da história em quadrinhos passa pelo digital e não podemos ser contra a tecnologia e essa nova realidade", define Pons.