Exposição mostra imagens de presos políticos de Mianmar
Bangcoc, 24 dez (EFE).- A foto da ativista birmanesa Aung San Suu Kyi, Prêmio Nobel da Paz, com a mão direita levantada e a palma com o nome de um preso político escrito em tinta preta é uma das imagens de destaque expostas em uma mostra fotográfica, que exibe também o protesto de outros 243 libertados em Mianmar.
O gesto conhecido como "Abhaya", parecido ao realizado por políticos americanos quando prometem ou juram o cargo, é uma postura budista que representa o ato de protesto silencioso, a lembrança e a coragem. A tradução literal é: "sem medo".
"Gostei da ideia de que antigos presos políticos pudessem, de alguma maneira, beneficiar seus companheiros que ainda se encontram atrás das grades", explica à Agência Efe o fotógrafo australiano James Mackay, autor da obra, em entrevista concedida por e-mail.
A exposição itinerante "Abhaya: Burma's Fearlessness" é resultado de três anos de trabalho que Mackay dedicou a retratar dentro e fora de Mianmar (antiga Birmânia) a birmaneses que estiveram presos por suas atividades ou convicções políticas.
As fotografias podem ser vistas na Galeria Serindia, em Bangcoc (Tailândia), onde vive uma grande comunidade de dissidentes birmaneses.
Entre os retratos expostos estão os de Suu Kyi, que passou mais de 20 anos presa; Tun Lin Kyaw, um membro da Liga Nacional pela Democracia que passou três anos atrás das grades após ser detido em 2004 por pedir a libertação dos presos políticos, ou U Zawana, monge budista libertado em 2009 após permanecer 16 anos preso por se reunir com funcionários da ONU.
"Pessoas como Suu Kyi, líderes étnicos e monges foram presos não só por suas atividades políticas, mas também por sua habilidade de se conectar com o povo e dar-lhes esperanças sem olhar as possíveis consequências", ressalta o fotógrafo.
No início de outubro deste ano, o atual governo civil concedeu anistia a cerca de 300 prisioneiros políticos, mas a Associação para a Assistência aos Presos Políticos de Mianmar estima que mais de 1,8 mil permanecem detidos.
"O fato de que qualquer um possa ser detido e preso por expressar de maneira aberta seus pensamentos é uma prova de fogo para determinar o Estado de Direito de um país", afirma Mackay.
Desde março, quando a Junta Militar cedeu o poder a um governo formado em sua maioria por ex-generais ligados ao antigo regime, Mianmar percebe ventos favoráveis para uma mudança de rumo político e até se fala de transição diante do restabelecimento do diálogo com a oposição e do início das negociações de acordos de paz com as guerrilhas étnicas.
O governo de Mianmar, presidido pelo ex-general Thein Sein, recebeu desde então diversas visitas de destacados funcionários das Nações Unidas e de países do Ocidente.
Em dezembro, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ofereceu apoio e ajuda dos Estados Unidos para levar adiante o incipiente processo de reformas políticas impulsionadas por Thein Sein, que foi primeiro-ministro da dissolvida Junta Militar.
Apesar das reformas que permitiram o debate público sobre determinados assuntos políticos, Mianmar ainda está longe de ter o que no Ocidente se entende por sistema democrático, indicam ativistas da oposição.
"O medo à mudança e a perder o poder" é a razão considerada pelo fotojornalista australiano para que tantas pessoas fossem presas durante o passado regime, que começou em 1962 com um golpe de Estado.
"Acho que uma das coisas mais excitantes agora é documentar a mudança do país, seja superficial ou real. É um momento histórico que pode ir nas duas direções", ressalta Mackay, referindo-se a seus projetos futuros.
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