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Bairro parisiense tem três dias de projeções de cinema, exposições e artes cênicas

Mario Roehrich

25/11/2011 06h08

Paris, 25 nov (EFE).- Pigalle, o bairro parisiense que já tanto seduziu boêmios e notívagos em cabarés lendários como Le Chat Noir e o Moulin Rouge e lançou mitos como a cantora e dançarina Joséphine Baker, decidiu escancarar a fama maliciosa com atrações noturnas espalhadas por lugares clássicos e desconhecidos.

Essa é uma das propostas da primeira edição do Pigalle Festival, que durante três dias - até este sábado - leva ao bairro projeções de cinema, exposições e artes cênicas, entre outras atividades culturais, explica à Agência Efe uma das organizadoras do evento, Camille Delalande.

"É o grande mercado do amor, um cantinho onde perambulam os que confundem a noite com o dia", cantou em 1944 o francês Georges Ulmer em sua memorável homenagem ao bairro, que continua sendo um dos mais picantes de Paris.

Desde a noite de quinta-feira, quando a casa La Machine du Moulin Rouge estreou "Gigolo Night", Pigalle revela aos interessados alguns de seus encantos ocultos. Os passeios noturnos são feitos em grupos de 20 pessoas, repletos de "performances secretas", como um show privado em um apartamento burguês ou num porão, e "shows burlescos" em quartos de hotel.

O evento conta também com o Le Divan du Monde, que escandalizou em 1894 com os espetáculos "Le Coucher d'Yvette", nos quais uma jovem se despia lentamente e se deitava numa cama em cena, nos primórdios do gênero striptease.

Outros lugares clássicos, como Chez Moune, antigo clube lésbico dos anos 1930, e o cabaré Love, onde se pratica pole dance, se transformam nesses três dias em boates comuns para atrair os mais tímidos.

Aos que não podem viajar a Paris para o festival, a organização lançou uma rádio online que narra histórias e segredos do bairro, nos intervalos de cada um dos mais de mil títulos musicais propostos.

"A ideia é utilizar o bairro como território, mas também como fonte de inspiração", destaca Camille. Ela fala ainda sobre o lado cultural de Pigalle, que, apesar de ter perdido força no início do século, "está voltando a ganhar personalidade" com a chegada de novas gerações de artistas.

O bairro foi historicamente um dos principais centros culturais da cidade, com a presença de artistas como Toulouse-Lautrec, Pablo Picasso e Salvador Dalí. As salas de baile como L'Elysée Montmartre, agora em parte incinerada após um incêndio em março, são testemunhas de um passado que ainda faz sonhar.

Hoje, Pigalle é "o último dos históricos bairros de noite", depois que Montparnasse e a Champs-Elysées perderam essa característica. "É o último, e é bom que se mantenha", opina Camille. "Paris precisa de lugares com essa energia".

Trata-se de um aspecto ligado à personalidade do bairro, onde os sex shops fazem parte da economia e do cotidiano. Em sua clássica canção, Ulmer não se esqueceu de dedicar uma estrofe aos hotéis discretamente iluminados, integrados na paisagem urbana, que as autoridades dos anos 1960 tentaram eliminar.

Testemunha de todas essas épocas desde sua abertura em 1889, as hélices do Moulin Rouge persistem na noite parisiense no bulevar de Clichy. Dentro, pode-se ver até o can can no mesmo local frequentado por estrelas como Ginger Rogers, Edith Piaf e Frank Sinatra. EFE