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Bairro histórico de Quito é objeto de estudo para restauração arquitetônica

23/11/2011 10h04

Núria Segura.

Quito, 23 nov (EFE).- O bairro histórico de San Juan, um dos mais belos e deteriorados de Quito, deve ser restaurado com o apoio dos moradores, segundo os arquitetos Josep María Montaner e Zaida Muxi, que participaram de uma oficina realizada na semana passada na capital equatoriana.

Em declarações à Agência Efe, Montaner acredita que as pessoas precisam "intervir, participar e opinar sobre os espaços públicos" onde vivem, enquanto Zaida, que dirigiu a oficina, enfatiza a importância de se observar como as pessoas interagem com o próprio bairro.

San Juan é composto majoritariamente por casas brancas, muitas em péssimo estado de conservação, e ruas íngremes que se estendem até a Cordilheira dos Andes, que, a cerca de 3 mil metros de altitude, dificulta a respiração das pessoas que passam no local.

Quando os colonizadores espanhóis chegaram à região no século XVI, o local já era de grande importância para os indígenas. Ali ficava o templo inca Huanacauri. O bairro foi escolhido pela vista privilegiada do vale e dos vulcões, como o Pichincha, o Cotopaxi, o Cayambe e o Antisana.

Como a Prefeitura de Quito pretende restaurar este bairro, situado no centro histórico, Zaida Muxi coordenou na semana passada uma oficina para apresentar ideias a esse projeto, destinado aos arquitetos, estudantes, técnicos do município e aos moradores.

"É importante ter contato com os moradores do bairro, já que são eles quem melhor poderão nos explicar suas necessidades, seus problemas e os espaços que os agradam", destaca a arquiteta argentina, que vive em Barcelona.

Junto com Montaner, ela já havia apresentado em Madri a exposição "Habitar o Presente", realizada em 2006 a pedido do Ministério da Habitação da Espanha. Na mostra, a dupla de arquitetos desenvolveu um método para analisar como eram as casas do país.

Segundo Montaner, o método se baseia em quatro critérios: "sociedade", para avaliar se a casa responde às necessidades de seus moradores; "cidade", sobre a proximidade de serviços; "tecnologia", sobre como o imóvel é construído; e "recursos", sobre o aproveitamento das condições naturais.

Casas ultramodernas, outras mais simples, porém, bem equipadas, e algumas totalmente sustentáveis, que funcionam com energia renovável, são algumas das 42 propostas da exposição exibida em Quito.

O arquiteto espanhol considerou que as casas contemporâneas devem ser "flexíveis", adaptadas a qualquer uso, e "não hierárquicas". As casas devem aproveitar seus espaços e ser, sobretudo, "dignas".

Apesar de reconhecer que cada contexto é diferente e cada cidade tem sua própria identidade, Zaida acredita que pode transferir "a metodologia da exposição e a observação da realidade" para a reforma do bairro San Juan.

"A metodologia que utilizávamos na exposição, mais do que uma receita, se debruça sobre uma série de perguntas, como o porquê, para quê, para quem são e quais espaços públicos devem ser construídos", explica.

Reunindo fotografias das 42 casas e quatro vídeos que refletem os critérios de seleção, a mostra foi hospedada no Centro de Arte Contemporânea, entidade estabelecida num antigo hospital militar de San Juan.

Na opinião de Zaida, para que o projeto de remodelação do bairro - incluindo tesouros como este centro de cultura - seja desenvolvido de maneira certa, é preciso antes de tudo que ele sirva aos moradores.

"As pessoas devem repensar as cidades do século XXI para que possam contar com distâncias curtas e sustentáveis, de modo que seja possível desenvolver suas vidas na proximidade", destaca a arquiteta.

Neste aspecto, ela garante que o ideal é reforçar as áreas de pedestres, o transporte público e a infraestrutura dos bairros em geral. EFE