Topo

Escritor Plinio Apuleyo critica socialismo do século XXI

Agencia EFE

16/11/2011 17h03

Emilio J. López.

Miami, 16 nov (EFE).- O escitor e jornalista colombiano Plinio Apuleyo Mendoza disse nesta quarta-feira que o chamado Socialismo do século XXI, que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, promove na hispanoamérica, é uma "confusa mistura entre castrismo e fascismo" sustentado por um "populismo assistencial".

Trata-se de um modelo que cega a "via real rumo ao desenvolvimento" de economias prósperas na região e a construção de Estados democráticos modernos, disse Apuleyo à agência Efe um dia antes de apresentar na Feira Internacional do Livro de Miami seu último livro, "Entre dos aguas".

O co-autor do "Manual do perfeito idiota latino-americano" e "A volta do idiota" deixou claro que só é possível conseguir prosperidade pela "liberdade política e econômica, a redução do Estado, os investimentos nacionais e estrangeiros e o fomento de uma educação baseada em novas tecnologias".

Para Apuleyo, que estudou Ciências Políticas na Universidade de Sorbonne de Paris, são essas condições e ações essenciais que Governos como o venezuelano, equatoriano e boliviano "satanizam" com o "rótulo de neoliberalismo".

Sobre o momento atual que a Colômbia atravessa, o escritor classificou como "muito difícil" e citou o "narcotráfico" como principal problema, para ele um "câncer de terríveis consequências" que serve ao mesmo tempo de sustento à guerrilha, aos paramilitares e os grupos criminosos.

Além disso, esse "câncer" é um "agente corruptor de nossa vida política" e um "negócio monumental", diz. Para quebrar as raízes desse mal ele respalda a proposta da descriminalização ou legalização da droga na Colômbia.

Colômbia é o lugar de encontro de "duas vidas e vivências", a dos personagens de "Entre dos aguas": um jornalista com "alma e vocação de poeta" que desde muito jovem se instalou em Paris, e seu meio irmão, 20 anos mais jovem e que seguiu um caminho oposto, pois se tornou militar e teve que enfrentar a realidade de seu país.

O encontro dessas duas vidas acontece quando o irmão mais novo morre e o primeiro decide investigar as causas reais de seu falecimento.

Sobre o processo de criação do livro, o autor reconheceu que foi difícil e que partia de um único propósito, o de "resgatar vivências". De acordo com ele, "há um momento milagroso em que os personagens seguem seu destino".

O escritor citou com entusiasmo o "feliz encontro de obras e autores excepcionais" que permitiu situar a literatura latino-americana entre as mais proeminentes da literatura universal.

Acreditava-se que este fenômeno literário iria criar escola, especialmente o realismo mágico de Gabriel García Márquez, como "sinal de identidade" da narrativa latino-americana, entretanto, as gerações atuais tomaram distância.

É que os novos narradores latino-americanos seguiram "outro rumo": o de "dar testemunhos da dura realidade de muitos de nossos países", uma realidade que de acordo com Apuleyo "nada tem de mágico".

No entanto, o escritor mantém intacta sua devoção pelas obras de García Márquez e de seus autores favoritos: Tolstoi, Flaubert, Virgínia Wolf e William Faulkner.

Com 79 anos, Apuleyo sustenta que se aprende mais com o fracasso do que com o êxito, porque o segundo contém perigos. Ele lembra com nostalgia dos amigos que esbanjavam agudeza e humor na época em que era chefe de redação da revista "Librere", em Paris.

Daquela época ele ainda guarda a afeição ao bom vinho francês, "um bordeaux", por exemplo. No final, fica a "riqueza do vivido e experiências inesquecíveis", embora o passar dos anos deixem a impressão de que se está "nas páginas finais de um romance", disse.

Talvez um remédio para isto, comentou Apuleyo com ironia, seria dizer como Mario Vargas Llosa, que "se a morte chega se trata de um acidente absolutamente inesperado". EFE