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Museu do Bicentenário exibe curiosidades dos presidentes ao público argentino

Bastão de comando presidencial de Raúl Alfonsín no Museu do Bicentenário, em Buenos Aires (14/10/2011) - EFE
Bastão de comando presidencial de Raúl Alfonsín no Museu do Bicentenário, em Buenos Aires (14/10/2011) Imagem: EFE

Mar Marín

De Buenos Aires

18/10/2011 06h04

Um automóvel "Justicialista Gran Sport" de 1954, o bastão de comando presidencial de Raúl Alfonsín, um fraque de Carlos Menem e sapatos mocassins desgastados de Néstor Kirchner são alguns dos objetos que integram o peculiar museu dos presidentes de Buenos Aires.

Uma galeria que passa por baixo da Casa Rosada, usada para proteger o primeiro forte espanhol em Buenos Aires, e a primeira alfândega da cidade forma este lugar, também conhecido como o Museu do Bicentenário.

Entre as antigas galerias de tijolos estão guardados emblemáticos objetos, como a poltrona presidencial de Santiago Derqui, de 1860, uma escrivaninha de madeira comprada por Domingo Sarmiento, em Nova York, e uma urna de madeira utilizada no primeiro sufrágio universal realizado na Argentina, em 1916.

Mas, sem dúvida, a principal atração da seção presidencial do museu corresponde ao setor dedicado ao general Juan Domingo Perón. A área é marcada por um grande retrato oficial de Perón, três vezes presidente da Argentina, e de sua segunda esposa, Eva Duarte, que está pendurado na parede da galeria.

"É um quadro único porque não se conservam retratos oficiais de Perón com a faixa presidencial ao lado de Evita", explica à Agência Efe o diretor do museu, Juan José Ganduglia, relatando que o quadro foi salvo após o golpe de Estado que derrubou o general, em 1955, porque alguém cortou a tela e a levou.

A poucos metros, outra joia se destaca no percurso: o "Justicialista Grand Sport-1954", o automóvel número 131 dos 167 que foram produzidos nas Indústrias Aeronáuticas e Mecânicas do Estado como parte do segundo plano quinquenal elaborado por Perón.

O automóvel em exibição, com carroceria em cores marfim e grená, de plástico reforçado com fibra de vidro, tem um motor Porsche de quatro cilindros e é motivo de inveja para qualquer colecionador.

Fotografias, carteiras de filiados ao Partido Justicialista e bonecas doadas por Evita a crianças pobres são parte de uma longa série de objetos que ilustram as facetas mais populistas do Governo do general.

O museu trata com cautela os anos de ditadura militar (1976 até 1983), embora exponha um lenço branco manchado de sangue que pertenceu à presidente das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini. O objeto marca o período mais dramático da história recente argentina.

A herança dos líderes da democracia desperta mais interesse entre os visitantes, que podem ver o bastão presidencial do radical Raúl Alfonsín (1983-1989), além do fraque de gala e os sapatos de verniz utilizados por Carlos Menem (1989-1999).

Os objetos doados por Menem dão a ideia de seus gostos caros e contrastam, afirma o diretor do museu, com a "simplicidade" de outro ex-presidente, o peronista Néstor Kirchner (2003-2007). Kirchner, que morreu em 2010, é representado por um traje azul escuro, um paletó, um par de mocassins desgastados e uma caneta de plástico.

Os objetos de Kirchner, que foram doados por sua esposa e sucessora, Cristina Fernández de Kirchner, são completados por um gorro com a bandeira argentina, uma camiseta do Racing, time pelo qual torcia, e muitas fotografias com líderes latino-americanos como Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez e Rafael Correa.

As fotografias são muito diferentes das que ilustram a galeria de Menem. O ex-líder argentino sempre é retratado ao lado de personalidades e de altos cargos militares. O grupo britânico Rolling Stones e o ex-ministro Domingo Cavallo, considerado o impulsor do "corralito", são exemplos disso.

O contraste é maior ainda em comparação com as duas únicas imagens do radical Fernando de la Rúa, retratado com uma expressão preocupada no helicóptero que o tirou da Casa Rosada em plena crise que sacudiu o país em dezembro de 2001.

Para Ganduglia, não existe no museu uma inclinação peronista, embora "não há dúvida que os peronistas chamam mais atenção. O peronista soa mais forte porque tem uma carga especial", avalia.

No início de novembro, o museu será palco de uma grande mostra em homenagem ao peronista Néstor Kirchner. A exposição marca o primeiro aniversário de sua morte, que será completado no dia 27 de outubro.