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Sueco Tomas Tranströmer ganha Nobel por poesia austera e concreta

Escritor sueco Tomas Tranströmer vence o Nobel de Literatura 2011 (31/3/2011) - AFP
Escritor sueco Tomas Tranströmer vence o Nobel de Literatura 2011 (31/3/2011) Imagem: AFP

Anxo Lamela

De Estocolmo

06/10/2011 12h11

O Nobel de Literatura 2011 foi concedido nesta quinta-feira ao poeta sueco Tomas Tranströmer, autor de uma poesia austera e concreta que oferece "imagens densas e diáfanas", além de uma "nova via de acesso ao real", de acordo com a Academia Sueca.

Sua escolha não foi uma surpresa, já que seu nome sempre aparecia nas apostas ao prêmio há anos.

Tranströmer e o sírio Adonis eram os dois poetas com mais chances de ganhar o prêmio caso a Academia Sueca decidisse, como fez, voltar a premiar a poesia, algo que não fazia desde 1996, quando ganhou a polonesa Wislawa Szymborska.

Nascido há 80 anos em Estocolmo, Tranströmer estudou literatura, psicologia e história das religiões na universidade, e estreou em 1954 com o livro "17 dikter" (17 poemas), que o transformou em uma das vozes com mais projeção de sua época.

Aí já aparece o interesse pela natureza e pela música, que estarão presentes em boa parte de sua produção posterior, da mesma forma que o gosto pelas metáforas claras e expressivas, o que lhe valeu o receio de certos círculos do mundo lírico sueco.

Obras como "Hemligheter pa vägen" (Segredos no caminho, 1958, em livre tradução), "Deem halvfärdiga himlen" (O céu a meio fazer, 1962, em livre tradução) e "Klanger och spar" (Sons e pistas, 1966, em livre tradução) o confirmaram definitivamente como um dos poetas mais destacados de sua geração.

Uma apoplexia sofrida em 1990 lhe privou praticamente da fala e deixou na metade seu livro "Minnena ser mig" (As recordações vêm-me), que acabou três anos mais tarde com a ajuda de sua esposa Monica, fundamental também para poder escrever mais dois poemas: "Sorgengondolen" (Gôndola Dolente, 1996) e "Deem stora gatan" (O Grande Enigma, 2004).

Desde então não publicou mais nada e preferiu se dedicar a escutar música, outra de suas paixões, dando por terminada uma obra poética que, segundo seu colega e amigo Lars Gustafsson, trata "sobre o momento em que o nevoeiro se dissipa, quando por um breve momento se rompe a cotidianidade".

Desde que foi introduzido nos Estados Unidos por Robert Bly na década de 1960, sua fama internacional foi crescendo e agora está traduzido a mais de sessenta idiomas, o que lhe transforma em "um dos maiores poetas do mundo", de acordo com o secretário permanente da Academia Sueca, Peter Englund.

Minutos após anunciar a decisão, Englund defendia dessa forma a escolha de Tranströmer, o oitavo sueco premiado com o Nobel, se adiantando a possíveis acusações de provincianismo.

A Academia não distinguia um sueco com o Nobel de Literatura desde Eyvind Johnson e Harry Martinson em 1974, em uma decisão polêmica, principalmente porque ambos faziam parte da instituição quando foram agraciados.

Mais categóricos que Englund foram os veículos de imprensa suecos: Björn Wiman, chefe de Cultura de "Dagens Nyheter", o jornal mais prestigiado da Suécia, qualificava a escolha como "absolutamente justa", porque Tranströmer é "muito superior" a outros poetas.

A edição digital de outro grande jornal sueco, "Svenska Dagbladet" também se expressou de forma similar sobre Tranströmer, quem há seis meses completou 80 anos e foi homenageado pelo mundo da cultura de seu país.

Embora a Fundação Nobel tenha pedido extrema discrição aos membros dos comitês das distintas categorias do prêmio, o de Literatura voltou a estar envolvido em polêmica, como ocorreu com Jean-Marie Gustave Le Clézio em 2008 e com a romeno-alemã Herta Müller em 2009.

Enquanto às 4h no horário de Brasília a empresa de apostas Ladbrokes pagava 14 a 1 por Tranströmer, que sucede no prêmio o peruano Mario Vargas Llosa, as apostas maciças pelo poeta sueco fizeram com que pouco antes do anúncio do prêmio as apostas baixassem a apenas 1,66.