Bucareste comemora aniversário incapaz de conservar seu patrimônio
Bucareste, capital da Romênia, comemorou este mês o 552º aniversário de sua fundação sem ter diminuído o abandono e a destruição que castigam seu patrimônio histórico.
Centenas de habitantes e visitantes participaram das comemorações de aniversário e escutaram inúmeras referências ao passado de esplendor pré-comunista.
Seus traços são visíveis ainda hoje, mas o esplendor se tornou decadência desde a chegada do comunismo ao poder em 1948, e só continuou depois da queda do regime, meio século depois, e a passagem a um capitalismo anêmico que muitos consideram mais destruidor para a cidade.
Qualquer breve passeio pelo centro da capital romena mostra aos pedestres dezenas de edifícios soberbos de grande valor histórico e difícil classificação arquitetônica.
A maioria é dos séculos XVIII e XIX e da época entreguerras, originais palacetes e vilas entre a influência francesa e turca, ou produtos variados dos diferentes estilos especificamente romenos.
Também apresentam fachadas sujas e sem harmonia, figuras mitológicas ou de mulheres fraturadas e pátios desconcertados após as cercas oxidadas.
Embora seu enorme e valioso patrimônio lhe permita competir em atrativo com muitas capitais europeias, Bucareste constitui no continente uma triste exceção de preguiça e desatenção com seus bens culturais.
"Em uma cidade normal, o investidor que quer construir tem duas opções: vir ao centro, comprar ou alugar uma casa velha e restaurá-la, ou ir à periferia e construir algo alto", explica à Agência Efe Dan Nicusor, presidente da ONG "Salve Bucareste".
"Em Bucareste, a autoridade local permitiu ao investidor vir ao centro e construir algo alto, conseguindo assim o prestígio da área com a máxima rentabilidade do tipo de construção", afirma.
"Desta forma o investidor não tem nenhum motivo para restaurar o patrimônio histórico", explica Nicusor, que lembra vários casos em que casas antigas foram derrubadas para construir edifícios altos.
Embora existam mecanismos legais para evitar a destruição do patrimônio, a demolição de joias arquitetônicas e históricas avança com força apesar dos esforços da sociedade civil.
A ONG "Salve Bucareste" ganhou 15 processos por autorizações de construção ilegais. Nos diversos casos, enumera tentativas de demolições ilegais à noite, declarações de utilidade pública e modificações ilegais de planos regionais, e uma constante falta de transparência que facilita muitas arbitrariedades.
Nos anos 80, o ditador Nicolae Ceausescu construiu a cidade que deveria abrigar funcionários e dirigentes do Partido Comunista, ao redor do que ainda hoje é considerado o segundo maior edifício administrativo do mundo, atrás apenas do Pentágono.
Para isso, ele destruiu bairros inteiros de casas baixas e igrejas de grande valor, cujo desaparecimento é considerado uma tragédia irreparável pelos especialistas.
Outros vários bairros de vilas com pátio, únicos na Europa, resistiram à queda do comunismo, mas continuam sem reforma e se deterioram progressivamente perante a impotência dos proprietários e a indiferença das autoridades, quando não são destruídos por algum ambicioso projeto imobiliário.
No meio do caos, Bucareste perde sua identidade e pode perder para sempre seu enorme potencial cultural e turístico.
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