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Berlim revive "Palácio das lágrimas" em exposição permanente

A chanceler alemã Angela Merkel entre o ministro da cultura e o diretor do "Palácio das lágrimas" em Berlim, na Alemanha (14/09/2011) - Reuters
A chanceler alemã Angela Merkel entre o ministro da cultura e o diretor do "Palácio das lágrimas" em Berlim, na Alemanha (14/09/2011) Imagem: Reuters

Elena Garuz

De Berlim

16/09/2011 10h04

O antigo terminal de Friedrichstrasse, conhecido como o "Palácio das lágrimas", recebe uma exposição que pretende recriar as dolorosas despedidas vivenciadas na estação de trem com a construção do Muro de Berlim, há 50 anos.

"Isto é história alemã em seu estado puro para qualquer visitante de Berlim", declarou a chanceler alemã, Angela Merkel, ao inaugurar a mostra. Ao mesmo tempo, Merkel ressaltou o ambiente de intimidação que reinava no antigo terminal, lembrando que ela já experimentou nesse local a dor de se despedir de um ente querido sem a certeza de que voltaria a vê-lo.

Incentivada pela fundação Casa da História da República Federal Alemã, a exposição reúne objetos originais, como uma cabine de controle, documentos, fotos, gravações de áudio e imagens, assim como inúmeros exemplos biográficos e testemunhos da época.

Entre 1962 e 1990, o terminal era o principal lugar no qual os alemães do Leste e do Oeste tinham que se despedir de seus familiares e amigos.

"Apresentar a história em lugares reais é um dos objetivos da fundação. O 'Palácio das Lágrimas' nos traz uma lembrança histórica como nenhum outro lugar da Alemanha", afirma Han Walter Hütter, presidente da fundação.

Segundo o diretor da exposição, Jürgen Reiche, "muitas histórias, tanto dramáticas como cotidianas, entre elas também muitas fugas fracassadas, estão vinculadas com este lugar único situado entre o Leste e o Oeste".

Com uma superfície de 550 metros quadrados e um total de 570 objetos expostos, a Casa da História procura ilustrar o sofrimento tanto para os que saíam como para os que eram obrigados a permanecer em Berlim Oriental.

"Era um lugar triste, onde muitas pessoas traziam a expressão do medo escrita no rosto", declarou a chanceler alemã em uma mensagem por vídeo.

A chefe do Governo federal espera que a exposição atraia "não só visitantes que ainda se lembram do 'Palácio das Lágrimas' e de suas vindas ao Ocidente", mas também jovens que não vivenciaram a experiência do muro e da fronteira entre as duas Alemanhas.

Muitas pessoas, sobretudo cidadãos orientais e idosos, pessoas a quem o regime comunista permitia uma estadia limitada na Alemanha Ocidental, não puderam suportar a carga psíquica e física à qual se viram submetidos por causa dos extremos controles. Assim, entre 1962 e 1990, mais de 200 pessoas morreram ao passar pela estação de Friedrichstrasse.

Ao mesmo tempo, a exposição, intitulada "Experiências fronteiriças: o dia a dia da divisão alemã", reflete a intensidade e a diversidade das relações entre os cidadãos de ambas as Alemanhas durante os quase 30 anos em que o "muro da vergonha" permaneceu de pé.

O processo de reunificação também aparece como um dos focos da exposição, que pretende ressaltar o alcance internacional deste acontecimento. Após a queda do bloco comunista, o terminal da estação de Friedrichstrasse, um moderno pavilhão de vidro e aço, deixou de desempenhar a função de "Palácio das Lágrimas".

Sob ameaça de demolição, o simbólico lugar foi declarado um Patrimônio Nacional em 2003, sendo submetido a reformas para acolher esta exposição permanente, aberta ao público de forma gratuita.