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Entre trauma, sexo e vida familiar, novo livro de Charlotte Roche, autora de "Zonas Úmidas", surpreende

A escritora inglesa radicada na Alemanha, Charlotte Roche (2009) - Divulgação
A escritora inglesa radicada na Alemanha, Charlotte Roche (2009) Imagem: Divulgação

Rodrigo Zuleta

03/09/2011 06h04

Berlim, 3 set (EFE).- Uma história conjugal que oscila entre o erotismo aberto e um espaço dedicado à imagem conservadora da família, "Schossgebete", voltou a posicionar a escritora alemã Charlotte Roche entre os autores de maior sucesso em seu país, onde seu anterior romance chegou a ser qualificado como "meramente pornográfico".

Após mais de um milhão de exemplares vendidos do seu primeiro livro "Feuchtgebiete" ("Zonas Úmidas", na versão brasileira), o segundo, "Schossgebete", cujo título pode ser traduzir como "Orações de Colo", também arrasa e já lidera as listas de best sellers.

As resenhas coincidem em descrever que nesta segunda obra se encontra uma Charlotte Roche muito mais complexa e profunda que o que muitos tinham imaginado.

Em uma primeira descrição do romance se pode dizer que em algumas ocasiões parece que como se tivesse feito a partir de uma fusão de fragmentos do Kamasutra ou de outros manuais eróticos com passagens de livros de gastronomia, ensaios sobre a educação infantil e alegações contra o feminismo.

A grande dama do feminismo alemão, Alice Schwarzer - que no romance é vista como alguém que esteve à beira de traumatizar a vida sexual da protagonista - já teve a oportunidade de expressar sua indignação.

O romance começa com uma descrição detalhada e comentada de um sexo oral que se estende durante cinco páginas após a qual a narradora conta que é excessivamente pudica e que antes do sexo, checa se todas as portas e as janelas estão fechadas, pois tem pânico que seus vizinhos a escutem.

A confissão por parte da narradora surpreende o leitor que até esse momento assistiu a uma performance sexual que inevitavelmente remete ao primeiro romance de Charlotte Roche.

No entanto, depois de outras páginas de minuciosas explicações de como ela alcança o orgasmo junto com seu parceiro, termina por constatar que essa vida sexual é só parte do que a narradora considera um casamento ideal.

A desinibição sexual, que a narradora mostra na cama e da qual dá conta extensamente, é o resultado de uma libertação de estereótipos que foi imposta por uma educação feminista - sua mãe aparece quase como um dublê de Alice Schwarzer.

A busca pelo casamento perfeito, além disso, termina revelando-se como o desejo de encontrar algo seguro em um mundo que se sente como ameaçador. Por trás disso há um drama e um trauma: a morte de três irmãos da narradora em um acidente de carro há muitos anos que, no entanto, continuam perseguindo-a.

Elizabeth Kiel, esse é o nome da narradora protagonista, é uma mulher cheia de medos e paranoias e só consegue se libertar na cama. O sexo serve para tentar construir um mundo sólido. Para manter vivo o desejo - tanto o seu como o de seu marido - a narradora recorre inclusive a visitas conjuntas a bordéis, que não são bem-vistas por seu terapeuta quando diz que, tenta limpar sua "psique asquerosa" em prol do futuro de seu casamento e da sua família.

No fundo - e Charlotte Roche confirmou em várias entrevistas - o que há no livro é um acerto de contas com a geração de 1968. Com o feminismo que, diz a narradora, a ensinou a ver os homens como inimigos, e ser contra as relações de família instáveis.

A partir daí, muitos deram um olhar retrospectivo a "Zonas Úmidas" que agora é visto como uma tentativa de recuperação da naturalidade sexual contra os dogmas de certos setores do feminismo que pretendiam declarar as relações heterossexuais como uma forma de dominação.