Cineasta de "Dogville" diz que arrependeria-se se seu filme inspirou Breivik
Berlim, 30 jul (EFE).- O cineasta Lars von Trier admite que se arrependeria de ter feito "Dogville" se for confirmado que seu filme serviu de inspiração ao autor confesso do duplo atentado na Noruega que matou 77 pessoas, admitiu o diretor ao jornal dinamarquês "Politiken", em reportagem publicada neste sábado.
"Sinto-me terrivelmente mal pensando que "Dogville" possa ter sido usado por ele como uma espécie de roteiro. É uma ideia horrível", declarou o diretor de cinema dinamarquês, quem afirmou ver, sem dúvida, paralelismos entre o final de seu filme e o massacre perpetrado por Breivik na ilha de Utoeya.
Em seu perfil no Facebook, cujo acesso está atualmente bloqueado, o autor do duplo atentado citava o filme de Von Trier, de 2003, como o terceiro de seus filmes favoritos.
O personagem principal de "Dogville", interpretado por Nicole Kidman, é torturada e estuprada pelos habitantes do povoado homônimo, até que faz com que todos eles sejam assassinados.
"A cena final de "Dogville" lembra de forma muito desagradável Utoeya", admitiu o cineasta, em alusão ao tiroteio contra o acampamento da juventude social-democrata na ilha, que deixou 69 mortos pouco após o atentado com carro-bomba contra o distrito governamental de Oslo, que matou oito pessoas.
Von Trier ressaltou que seus filmes tem um "objetivo pedagógico", que "claro vai em direção oposta às ações de Breivik".
O porta-voz do ultranacionalista Partido Popular dinamarquês, Soren Espersen, respondeu no mesmo jornal às críticas feitas pelo cineasta contra esse partido e seu líder, Pia Kjaersgaard, por sua retórica xenófoba e islamofóbica.
"É interessante que isso venha de um homem que se declara nazista e que fez filmes perversos, carregados de violência que segundo as declarações de Breivik serviram de inspiração para seus crimes", comentou.
Em maio, a organização do Festival de Cannes declarou "persona non grata" Von Trier, após seus comentários de apoio a Adolf Hitler durante a entrevista coletiva de apresentação de seu filme "Melancolia".
"Eu entendo Hitler, embora compreenda que fez coisas erradas. Só estou dizendo que entendo o homem, não é o que chamaríamos um bom homem, mas simpatizo um pouco com ele", disse Von Trier, quem posteriormente pediu desculpas e afirmou não ser antissemita.
Após declarar que Kjaersgaard deve assumir parte da responsabilidade do ocorrido na Noruega, Von Trier matizou em "Politiken" que não se pode culpar de forma direta, mas sim o Partido Popular Dinamarquês por ter contribuído para construir uma culpa que custou vidas, em alusão às vítimas da Noruega.
Em seu "manifesto" de 1,5 mil páginas, divulgado na internet horas antes dos atentados, Breivik, ultradireitista próximo aos fundamentalistas cristãos e islamofóbicos, elogia entre outras coisas a rígida política de estrangeiros dinamarquesa.
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