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Projeto arquitetônico ironiza e denuncia luxuosa transformação de Paris

07/07/2011 09h04

Javier Albisu.

Paris, 7 jul (EFE).- O coletivo de artistas H5 criou um irônico projeto imobiliário que transforma o coração de Paris em uma exclusiva zona com clubes de tênis e marinas para denunciar a transformação da capital francesa em uma área acessível apenas para os mais ricos.

Com toda a parafernália que caracteriza uma "ambiciosa requalificação urbana" financiada por um fundo de investimento internacional, o projeto Immorose Prestige exibe com maquetes virtuais a suntuosa metamorfose que propõe para a Île da Cité nos próximos quatro anos.

Essa ilha situada no rio Sena "vai se transformar em um conjunto residencial de grande luxo, dotado de amplas e luminosas casas com vistas excepcionais", explicam os responsáveis pela piada crítica, preparada com a mesma apresentação que se poderia esperar de um projeto real.

Com shoppings pomposos e empresas de luxo, hotéis de cinco estrelas e carros conversíveis pelas ruas, o projeto apresenta uma caricatura exagerada de uma Paris na qual os preços dos imóveis aumentaram 21% em 2010 até deixar o preço médio do metro quadrado acima dos 8 mil euros, segundo um recente estudo publicado pelo Knight Frank e pelo Citibank.

Perto da catedral de Notre Dame, uma avenida repleta de esculturas se estenderia próxima ao que atualmente é o Palácio de Justiça, que daria lugar a um elegante centro de negócios que poderá ser visitado com prioridade aqueles que tenham reservado com antecedência sua entrada na nova ilha.

O discurso do fundo de investimento fictício também está salpicado do que eles consideram uma marca ecologista, já que propõem "lazer verde" na marina onde os opulentos podem atracar seus iates depois de navegar pelo Sena.

Por trás da brincadeira do Immorose Prestige está o debate que estes artistas, apoiados por Aldric Beckmann, do estúdio de arquitetura Beckmann N'Thépé, querem pôr sobre a mesa e que questiona se é necessário seguir erguendo museus e hotéis de luxo enquanto muitos moradores da cidade vivem em minúsculos apartamentos.

Para Beckmann, o perigo é que muitas instituições possuem um grande patrimônio imobiliário que pode terminar nas mãos de grandes fundos ou empresas que, com critérios especulativos e não urbanísticos, poderiam eliminar serviços básicos para os cidadãos e avançar "rumo a uma 'eurodisneyzação' das capitais".

"O pior é que alguns vão acreditar e inclusive estarão interessados pelo projeto", afirmam Ludovic Houplain e Nicolas Rozier, também idealizadores da iniciativa que pretende criar "uma Paris equilibrada que escolha seu entorno urbano".