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Murdoch fecha "News of the World" após escândalo das escutas

07/07/2011 16h55

Londres, 7 jul (EFE).- A indignação popular provocada pelo escândalo dos escutas telefônicas ilegais dará fim no próximo domingo ao jornal sensacionalista "News of the World", que pertence ao conglomerado do magnata Rupert Murdoch e é um dos mais vendidos do Reino Unido.

O fechamento de uma publicação famosa por seus agressivos "furos" jornalísticos acontece após a revelação que, para conseguir alguns deles, o "News of the World" espionou não só personalidades, como parentes de vítimas de assassinato ou de soldados mortos no Iraque.

Um dia depois de o escândalo ter alvoroçado o Parlamento britânico, o presidente da News International (grupo editor do jornal), James Murdoch, anunciou nesta quinta-feira o fechamento aos funcionários do "irmão" dominical do famoso "The Sun" e que tem 168 anos de história.

Em pronunciamento aos trabalhadores, o filho de Rupert Murdoch disse que tudo de bom que a publicação tinha feito em sua longa trajetória ficou "manchado por um comportamento errado", e alegou que o jornal, que se dedica "a cobrar os demais", havia falhado em questionar a si mesmo.

O tabloide sensacionalista estava no centro de um escândalo por escutas ilegais a políticos e famosos que explodiu em 2006 e que levou à prisão seu correspondente de Família Real, Clive Goodman, e o detetive particular Glen Mulcaire, com quem trabalhava em parceria, mas nos últimos dias foram divulgados novos detalhes que acabaram provocando seu fechamento.

Além de ter acessado ilegalmente as caixas postais dos telefones celulares de famosos como a atriz Sienna Miller e membros da família real britânica, foi revelado que repórteres da publicação tentaram interceptar as comunicações de familiares das vítimas dos atentados terroristas de Londres em 2005 e de crianças assassinadas.

Em comunicado, James Murdoch reconheceu que o jornal falhou ao não investigar mais a fundo o alcance da prática das escutas ilegais e ao sustentar a alegação, inclusive perante o Parlamento, de que se tratava de uma atividade isolada.

A Polícia encontrou quase 4 mil nomes de possíveis vítimas de escutas nos documentos entregues pelo tabloide e centenas de pessoas entraram em contato com os agentes ao suspeitar que seus telefones teriam sido grampeados.

Murdoch reconheceu que as indenizações extrajudiciárias pagas com sua autorização a algumas vítimas, como Sienna Miller ou o publicitário Max Clifford, foram também um equívoco, pelo fato dele não contar então com todos os dados.

Para compensar pelo menos parcialmente o dano causado, o empresário decidiu que toda a arrecadação da última edição deste domingo do "News of the World", que tem tiragem de 2,8 milhões de exemplares, irá a organizações de caridade, que também poderão anunciar gratuitamente em suas páginas.

A notícia do fechamento do jornal foi bem recebida por críticos como o deputado trabalhista Tom Watson, que qualificou a decisão como "uma vitória para as pessoas decentes", apesar da resistência de outros políticos.

O líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, disse que o fechamento da publicação será insuficiente para restabelecer a reputação da News International se não forem investigados seus principais responsáveis.

Por sua vez, o ex-vice-primeiro-ministro John Prescott, uma das vítimas das escutas, lamentou o fato de o fechamento do jornal representar a demissão de 200 jornalistas, enquanto seus chefes, como a ex-diretora Rebekah Brooks, escapam impunes.

Há poucos meses, o antigo diretor do "News of the World" Andy Coulson teve que renunciar a seu cargo como diretor de comunicação de Cameron ao se ver envolvido no escândalo das escutas, embora sempre tenha negado que estivesse a par dessa prática durante sua liderança.

Analistas predizem que o periódico, que nos últimos dias perdeu anunciantes pela deterioração de sua reputação, pode reaparecer como uma extensão do "Sun", algo que, por enquanto, a News International não confirma.