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A outra porta de entrada para Machu Picchu

06/07/2011 16h42

Paco de Campos.

Cuzco (Peru), 6 jul (EFE).- A maioria dos turistas chega a Machu Picchu em ônibus, mas existe outra maneira para chegar ao monumento: a Trilha Inca, uma rota a pé que permite a 200 privilegiados por dia adentrar o mundo andino e conhecer sua fauna e flora.

Enquanto a visita habitual aos populares restos arqueológicos obriga o turista a compartilhar a experiência com milhares de pessoas, chegar a Machu Picchu caminhando se transforma em uma experiência íntima com a tradição andina, na qual a própria rota é quase mais interessante que o destino final.

Nos quatro dias e 42 quilômetros da Trilha Inca, onde também existe uma rota alternativa de dois dias, o turista percorre um pavimento de pedras que chega aos 4,2 mil metros de altura, enquanto transita por imponentes e solitárias ruínas que aparecem entre a selva peruana.

Para Fernando Astete, diretor do Parque Arqueológico de Machu Picchu, a Trilha Inca é "uma rota cultural que permite ao turista adentrar no mundo andino", o que a transforma em uma concorrida experiência para a qual é necessário reservar uma vaga com vários meses de antecedência.

Nem sempre foi assim. Quando a trilha começou a ficar popular entre os turistas, em meados da década dos 1970, a entrada era livre e realizar o caminho era uma dura experiência destinada a aventureiros capazes de sobreviverem sozinhos às frias noites e à exigente altitude dos Andes.

No entanto, não eram raros os casos de turistas que sofriam infartos ou eram sepultados por deslizamentos de pedras, algo que motivou o Governo peruano a estabelecer desde 2001 um rígido controle sobre a rota.

"Antes permitiam a entrada de qualquer um, pessoas que nunca haviam estado a 4 mil metros de altura e que também sofriam problemas estomacais, mas isto foi superado. Os grupos agora vêm preparados para todas as situações que se apresentam", declarou Astete.

Atualmente, a única maneira de percorrer a Trilha Inca é através de alguma das agências de viagens que têm o monopólio da atividade se encarregam de contratar guias e carregadores que acompanham os turistas e facilitam o trajeto.

Dessa forma, a única preocupação dos viajantes é levar água e sapatos confortáveis - as barracas de camping, comida e demais itens são responsabilidade dos carregadores.

A capacidade destes homens é uma das surpresas da trilha: enquanto o turista inicia cedo sua rota, eles ficam atrás levantando o acampamento, para depois ultrapassar a todos durante o dia e chegar ao próximo acampamento a tempo de deixar tudo pronto para receber os viajantes.

E fazem isso com sandálias nos pés e folhas de coca na boca, uma tradição andina à qual os turistas são convidados a experimentar e que habitualmente se transforma em grande aliado para o esforço da rota.

Além dos restos arqueológicos durante a rota, uma das maiores surpresas que a Trilha Inca reserva é quando, no terceiro dia de aventura e após subir ao topo de uma das montanhas, o turista se depara com uma densa vegetação que cobre a paisagem. Como lembra Astete, outra das grandes virtudes desta rota é a fauna com colibris, cervos e ursos.

No entanto, a grande atração de percorrer Machu Picchu a pé é a possibilidade de conhecer a importância da rede de caminhos dos incas, um dos objetivos aos que o Império deu mais importância, segundo Astete.

"Machu Picchu não era auto-suficiente, não havia cultivos para os 500 ou 600 habitantes. Por isso falamos que era um centro político, religioso e administrativo, uma conexão entre os Andes e a Amazônia", argumentou.

E essa é a sensação de contemplar o amanhecer em Machu Picchu pela primeira vez no Inti Punku (Porta do Sol), após caminhar durante quatro dias pelo mesmo caminho de pedra utilizado há séculos pelos peregrinos da cidade perdida dos incas.