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Inscrições maias revelam mil anos de paixões, intrigas e guerras

Revista de arqueologia apresenta imagem de inscrições da cultura Maia - EFE/Jorge PÈrez
Revista de arqueologia apresenta imagem de inscrições da cultura Maia Imagem: EFE/Jorge PÈrez

05/07/2011 21h49

México, 5 jul (EFE).- As inscrições da escrita maia revelaram aos especialistas pelo menos mil anos da história de seus governantes, suas paixões, suas intrigas, as guerras em que se envolveram e os rituais que praticavam, disse à Agência Efe o arqueólogo Enrique Vela, editor da revista "Arqueología Mexicana".

O especialista explicou que o número de julho da revista, dedicado às cidades maias do período clássico (250-900 d.C.), mostrará detalhadamente a vida dos governantes de Yaxchilan, Calakmul, Palenque, Toniná, Copán e Tikal, entre outras cidades.

O arqueólogo lembrou que o pesquisador soviético Yuri Knorosov decifrou a escrita hieroglífica maia e a partir de seu trabalho foi possível conhecer o sentido das inscrições maias e através delas todas as histórias dos governantes.

Vela explicou que os europeus, ao chegar à América, ficaram surpresos ao encontrar sociedades estruturadas da mesma forma como as do Velho Continente, com um governante quase divino, sacerdote e comandante-em-chefe dos guerreiros.

No entanto, o arqueólogo advertiu que a informação deve ser considerada com reserva, pois ali está escrito o que queriam os reis, tudo deve ser visto como propaganda dos governantes e seus relatos devem ser comparados com os resultados das pesquisas.

"Às vezes as inscrições indicam que suas cidades eram enormes, mas os dados arqueológicos nos mostram que eram pequenas, ou mesmo que um governante tinha uns 80 anos, quando seus restos ósseos demonstram uma idade de 53 anos", exemplificou.

Vela declarou que os governantes se encarregavam de cumprir os rituais, entre eles os sacrifícios para perpetuar a continuidade dos ciclos naturais, e quando representavam as divindades os chefes usavam máscaras dos deuses.

"No caso dos maias eram auto-sacrifícios, os chefes doavam seu sangue, furavam a língua, o pênis, as orelhas... O sangue que brotava era o líquido sagrado", ressaltou.

O especialista esclareceu que, mesmo sem dados sobre sacrifícios humanos, nas pinturas de Bonampak, no estado de Chiapas, "existem imagens de decapitações onde se observa que do corpo de um sacrificado corre o sangue", aparentemente de uma extração de coração.

Segundo o antropólogo, os maias não eram nada pacíficos e estavam em guerra o tempo todo - todas estão registradas nas inscrições. "Agora sabemos como se chama cada um dos chefes em cada cidade, qual foi sua história, suas paixões e suas guerras recordadas nos escritos", considerou.

Sobre o abandono das cidades do período clássico maia e seu êxodo ao norte de Iucatã, Vela afirmou que não existe nenhum mistério, mas uma conjunção de fatores como o clima de guerra, a pressão demográfica e o esgotamento da terra por uma agricultura depredadora dos solos.

"Temos a ideia que existem várias cidades perdidas na floresta, algumas já exploradas, mas há muito mais, existem milhares de cidades sepultadas sob a selva, algumas de grande tamanho", concluiu.