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Machu Picchu, a cidade que nunca esteve perdida

27/06/2011 20h38

(Corrige data)

David Blanco Bonilla.

Lima, 27 jun (EFE).- Embora o americano Hiram Bingham tenha recebido o mérito mundial por ter "descoberto" a cidadela inca de Machu Picchu, todas as evidências históricas sugerem que este famoso sítio arqueológico nunca esteve perdido.

Bingham ganhou fama após realizar três expedições (1911, 1912 e 1915) em Machu Picchu, que chamou de "cidade perdida dos Incas", mas no meio de suas aventuras omitiu dados históricos que foi encontrando e, inclusive, deixou de mencionar importantes conhecedores da região, entre eles um compatriota seu.

Como por exemplo, Albert Giesecke, um acadêmico americano que em seus 29 anos foi reitor da Universidade San Antonio Abad do Cuzco e que foi quem lhe deu as referências. Além de Melchor Arteaga, o camponês que chegou a levá-lo até as famosas ruínas, em 24 de julho de 1911.

Contudo, antes de Bingham, que muitos afirmam que inspirou a figura cinematográfica de Indiana Jones, outras pessoas visitaram o lugar, embora sempre com a ansiedade de buscar tesouros enquanto realizavam explorações mineiras ou seguiam rotas fluviais rumo à Amazônia.

O mais célebre de todos foi o fazendeiro de Cuzco Agustín Lizárraga, que chegou ao local e escreveu em um dos muros do Templo das Três Janelas, "A. Lizárraga em14 de julho de 1902", ou seja, nove anos antes que Bingham.

Lizárraga realizou os primeiros trabalhos de limpeza nas ruínas acompanhado por Justo A. Ochoa, Gabino Sanchez e Enrique Palma, mas morreu afogado no rio Vilcanota em fevereiro de 1912, sem poder reivindicar sua descoberta.

Mas mesmo antes dele, já existiam mapas do século 19 que apontavam o sítio de Machu Picchu e, voltando mais no tempo, os primeiros indícios são de 1565, nos registros do espanhol Diego Rodríguez de Figueroa onde o local já aparecia com o nome de "Pijchu".

Muitos destes dados foram apresentados em 2003 pela historiadora peruana Mariana Mould de Pease, que publicou o livro "Machu Picchu e o Código de Ética da Sociedade de Antropologia Americana".

Entre as evidências históricas, Mariana publicou os mapas que provam que a cidadela inca foi visitada no século 19, e aparentemente saqueada, pelo aventureiro alemão Augusto Berns.

Essas cartas geográficas foram divulgadas como uma primícia pelo cartógrafo americano Paolo Greer, que afirmou que Berns era o verdadeiro descobridor de Machu Picchu, algo que foi rejeitado por Mariana.

Além disso, a historiadora revelou que Bingham teve entre suas funções a resolução que autorizou a presença de Berns no sítio histórico, e disse que o historiador inglês Clemens Markham, que chegou a ser presidente do Real Sociedade de Geografia de Londres, também tinha mapas nos quais figurava Machu Picchu.

O historiador peruano Carlos Carcelén disse que Berns se instalou na região de Cuzco e criou uma empresa madeireira e de exploração mineira na segunda metade do século 19, onde começou a saquear as relíquias de Machu Picchu com o conhecimento do Governo vigente.

Mariana também adiantou a existência de outros mapas datados em 1870 e 1874, respectivamente, e que considera "uma prova irrefutável de que Machu Picchu estava totalmente integrado ao Peru republicano".

O mapa de 1870 foi traçado pelo americano Harry Singer para promover o investimento mineiro na região, e o de 1874 foi elaborado pelo engenheiro alemão Herman Gohring por encomenda do Governo peruano e registrou claramente Machu Picchu e a montanha vizinha Huaina Picchu.

Agora que passou um século, e com reconhecimento mundial pleno, existe um consenso que Bingham não foi o descobridor, mas sim a primeira pessoa que soube perceber a importância histórica e cultural da cidadela que é considerada atualmente uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo.