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Mistério da felicidade tailandesa inspira pinturas em Bangcoc

A artista Lampu Kansanoh ao lado de seu quadro, intitulado "As inundações são melhores que a seca", na galeria Ardel de Bangcoc, na Tailândia (15/06/2011) - EFE
A artista Lampu Kansanoh ao lado de seu quadro, intitulado "As inundações são melhores que a seca", na galeria Ardel de Bangcoc, na Tailândia (15/06/2011) Imagem: EFE

Gaspar Ruiz-Canela

Da EFE, em Bangcoc

16/06/2011 06h09

Crianças obesas, nus femininos e sorrisos diante da adversidade são algumas das cenas retratadas por quatro artistas tailandeses da nova geração em busca do segredo da felicidade e da infelicidade.

Na galeria Ardel de Bangcoc, a pintora Lampu Kansanoh exibe em sua coleção "Agridoce" 12 imagens caricaturadas de grandes proporções e cores quentes, que refletem os sorrisos incansáveis dos tailandeses tanto em momento felizes como em condições climáticas extremas.

Uma obra mostra um senhor desdentado rindo com água até os joelhos e outra traz uma mulher sorrindo enquanto lava o cabelo de sua mãe, todos em um cenário trágico de inundação.

As dimensões dos óleos (de até 2 por 3 metros) intensificam as expressões exageradas dos retratados, assim como a sensação de simplicidade dos personagens.

Lampu se inspirou nas enchentes que em novembro passado afetaram centenas de famílias durante semanas na província de Ayuthaya, a cerca de 80 quilômetros de Bangcoc.

"Apesar das adversidades, os afetados, a maioria gente humilde, sorriam e eu cheguei a falar que eram felizes porque se conformaram com a situação", afirmou à Agência Efe a pintora, de 28 anos.

Em sua opinião, esta alegria incansável vem da serenidade com que os tailandeses, principalmente os habitantes das zonas rurais, aceitam os infortúnios devido à sua religião budista, que prega a equanimidade diante das desgraças e da falta de sorte.

"Segundo Buda, se entendermos bem sua natureza, o sofrimento abre a porta para a verdadeira felicidade. O sofrimento é como a pele de uma laranja, quando a descascamos descobrimos o sabor da fruta", afirmou Lampu.

A mostra, aberta ao público até 10 de julho, também inclui passagens da festividade do ano novo budista (Songkran), quando os tailandeses fazem guerras de água e servem comida em abundância.

Para o psiquiatra tailandês Narin Ruttanachun, o sorriso e o bom humor são "excelentes defesas naturais" contra o estresse em períodos de desastres naturais e nos problemas do dia a dia, enquanto a família restaura a força mental.

"A artista deve ser elogiada por conseguir refletir duas verdades: a de que a felicidade se encontra nos detalhes de uma vida simples e a de que nós somos responsáveis por dar sentido à nossa própria existência", acrescenta o psiquiatra.

Já os artistas Chainarong Kongklin, Thongmai Thepram e Sarawut Yasamoot protagonizam na galeria Koi Art a exposição "Beleza, Cor e Felicidade" até o dia 30 de junho.

O humor e as cores intensas dominam os quadros apresentados por Chainarong, que retrata o contraste da cultura milenar asiática com os progressos da globalização, como o hip-hop e a obesidade.

"As pinturas de Chainarong fazem muito sucesso em Bangcoc, suas telas têm uma estética muito pessoal e original", disse à Efe Busakorn Wanna-oun, proprietária da galeria.

Crianças rechonchudas, que lembram as figuras redondas de Fernando Botero, simbolizam o materialismo e os excessos da gula dos filhos únicos na China, embora também vislumbrem sua ânsia de brincar e de serem felizes.

Já Thongmai apresenta as curvas da mulher para expressar uma beleza serena sobre uma superfície acrílica da tela e a textura do veludo.

Na obra "Vênus", uma porca jaz em uma cama de hospital para se submeter a uma cirurgia plástica de implante de próteses de silicone nos seios que se destacam pelo tamanho e pela cor verde fosforescente, um retrato da infelicidade inerente ao mundo dos procedimentos estéticos.

Sarawut Yasamoot afirma que é possível encontrar a paz e a beleza se um lado da pessoa se mantiver otimista, inclusive durante o caos do trânsito e nos arranha-céus de Bangcoc.

Com traços geométricos e improvisados, o artista descobre a sua própria versão da "felicidade", através do diálogo entre cores vivas e escuras de seus quadros abstratos onde são representados diferentes perfis da megalópole tailandesa.