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Viagem portuguesa foi um diálogo e não monólogo, garante historiadora em "A derrota de Vasco da Gama"

13/06/2011 18h40

Barcelona, 13 jun.- A historiadora Isabel Soler, que acaba de publicar o ensaio "A derrota de Vasco da Gama", disse que "a viagem portuguesa tricontinental e trioceânica foi, ao longo de mais de 200 anos, um diálogo, e não um monólogo com as culturas encontradas", ao contrário das conquistas espanholas.


Em entrevista à Agência Efe, Isabel comentou que quando Vasco da Gama iniciou suas missões, em 1498, "Portugal, que não estava em igualdade de condições com as grandes potências, viajou à Ásia na busca não só dos ricos mercados orientais, mas também dos míticos reinos da região, como o de Preste João", declarou.

Segundo a historiadora, a viagem de Vasco da Gama representou "a ruptura do monopólio" do comércio com Oriente obtido pelos venezianos: "Colombo tentava aumentar as tarifas e as taxas de importação, mas não conseguiu, embora acreditasse toda sua vida que tinha chegado a Catai e Cipango - feito alcançado por Vasco da Gama", ressaltou.

Ao contrário do que aconteceu com Colombo, do qual se conservam seus diários de bordo, no caso de Vasco "só dispomos de um texto escrito por um biógrafo anônimo, que poderia ser Álvaro Velho, ou as crônicas oficiais que trataram da primeira viagem do navegante, escritas por João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda, Damião de Góis e Gaspar Correia", comentou Isabel.

A publicação de "Os Lusíadas" de Luís de Camões, em 1580, transforma a viagem do navegante em uma façanha épica. Curiosamente, "tanto Vasco como Camões são personagens obscuros e que foram manipulados pela história oficial", de acordo com a historiadora.

Vasco de Gama era "um personagem horrível, violento, irascível, com péssimo caráter, algo habitual nos capitães de navios, onde exerciam a justiça absoluta sobre tripulações de 400 e até mil pessoas que conviviam em um espaço limitado durante meses", garantiu Isabel.

A autora sustenta que Portugal construiu "um império oceânico e não territorial, com a única exceção do Brasil, onde teve uma presença similar a da Espanha no Peru e no México", considerou.

No entanto, "tudo que chegou a Portugal na primeira década do século XVI procedente desse comércio marítimo, não chegava à Espanha até que Hernán Cortés se expande na América" e "em dez anos, os portugueses controlaram os principais portos comerciais, como Ormuz, Goa e Malaca", segundo Isabel.

A historiadora não abandonará o tema em seu próximo livro, que "explicará a parte mais ideológica e simbólica da viagem portuguesa" e demonstrará que sua história se encaixa nessa atitude "de ver, buscar e possuir encarnada pelo rei Manuel I, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo e Magalhães, entendidos mais como símbolos que como personagens históricos". (por José Oliva)