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Na Tailândia, peça de teatro desmonta o mito da Torre de Babel

12/06/2011 10h06

Gaspar Ruiz-Canela.

Bangcoc, 12 jun (EFE).- Uma jovem companhia de teatro de Bangcoc se propôs a romper as barreiras culturais encenando obras contemporâneas, como "Calígula", de Albert Camus, nas quais são intercalados diálogos em inglês, italiano, alemão e tailandês.

"Em um mundo cada vez mais multicultural devido à globalização, seja na Tailândia ou na Itália o teatro tem de adaptar-se para chegar a um público mais diverso", disse à Agência Efe o italiano Maurizio Mistretta, diretor da companhia All Souls.

O diretor aperfeiçoou esta técnica durante a época na qual promoveu, nas prisões de seu país, oficinas de teatro para reclusos italianos e também do norte da África, Europa Oriental e América Latina.

"As comunidades mais diversas culturalmente se encontram nas prisões. Na Itália, 40% dos presos são italianos, os demais são estrangeiros", disse Mistretta, que fundou esta companhia há seis meses.

As representações deste grupo são do tipo experimental, com um pequeno cenário montado em um canto, com vários sofás e cadeiras para um reduzido público de 20 ou 30 pessoas.

"Desta forma, rompemos a quarta parede e conseguimos que os atores interajam com o público", explicou o italiano.

Duas cortinas, várias cadeiras, uma máscara e um candelabro formam o conjunto de elementos que os atores precisam para representar "Calígula", encarnado por Mistretta, que declama em inglês, às vezes em italiano e outras em tailandês.

A representação é completada pelo alemão Robin Shreoeter, o britânico-tailandês Chris Wegoda e a tailandesa Patchanee Poonthong.

"Contemporâneo é a palavra-chave. Queremos trazer à Tailândia um tipo de teatro moderno que fale do que ocorre hoje", acrescentou.

O desafio de Mistretta é usar uma modalidade de teatro mais profunda para cativar o público tailandês, acostumado principalmente aos musicais e às obras com roteiros e atores das telenovelas.

"Calígula" relata a vida do imperador romano que passou da condição de governante querido à de déspota sem escrúpulos após a morte de sua irmã e amante, Drusila.

"A obra trata de um tema eterno, o abuso de poder quando se encontra concentrado em poucas mãos ou em uma só pessoa. Também fazemos referência a temas atuais, como o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi", indicou Mistretta.

A companhia representa nos últimos meses uma adaptação da peça de Camus dividida em três partes, e no final do ano porá em cena a versão integral.

Os atores da All Souls começaram nesta semana a ensaiar a adaptação dramática do livro "As aventuras de Pinóquio", escrito pelo italiano Carlo Collodi no final do século 19 e que estreará em julho.

"É uma obra muito difícil de representar, principalmente o personagem Pinóquio, porque o ator tem de interpretar uma marionete", afirmou o diretor da All Souls.

Frente à versão apresentada pela Disney, a adaptação de Mistretta é mais fiel à história original, que não foi escrita para o público infantil e que tem um final trágico para o boneco de madeira.

"Embora a obra seja apta para todos os públicos, as crianças não entenderão muitas mensagens, mas também deverão divertir-se porque há muito humor", disse.

O primeiro andar do centro All Souls reserva um cantinho para o cenário, enquanto o restante é ocupado por um restaurante que combina os pratos italianos e tailandeses, assim como vinhos da península transalpina.

O prédio de três andares, nos arredores de Bangcoc, também conta com uma loja de antiguidades e uma academia de arte dramática.

"Recentemente organizamos uma oficina para crianças de áreas pobres. Quando consolidarmos a companhia, queremos levar nosso teatro aos que não podem pagar a entrada", resumiu o diretor da All Souls.