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Eletricista de Picasso, que detinha obras inéditas do artista, é investigado

11/06/2011 12h56

Paris, 11 jun (EFE).- Pierre le Guennec, o eletricista de Picasso que mantinha em sua casa 271 obras desconhecidas do artista espanhol, está sendo investigado pela Justiça francesa assim como sua mulher, Danielle, e deverão comparecer no fim do mês para esclarecer como conseguiram obtê-las, revelou neste sábado o jornal "Le Monde".

A juíza de instrução de Grasse (sudeste da França) Catherine Bonnici denunciou Pierre e Danielle Le Guennec em 3 de maio por "receptação" - beneficiar-se de um bem com pleno conhecimento de sua procedência como fato delitivo - depois que a Promotoria dessa cidade próxima a Cannes abrisse uma investigação judicial em dezembro.

Uma apuração iniciada após a descoberta na casa do casal em Mouans-Sartoux (junto à côte D'Azur francesa) de 271 "Picassos" inéditos feitos essencialmente em 1910 e 1920, e que, segundo a versão deles, foram dados pelo artista pouco antes de morrer em 1973.

Segundo "Le Monde", o procedimento judicial marcou um ponto de inflexão com as informações apresentadas por Claudia Andrieu, a diretora jurídica da Picasso Administration - o organismo que administra a herança do artista -, que não quis comentar a acusação dos Le Guennec, mas mostrou-se confiante na continuidade.

A Picasso Administration foi quem levou o assunto aos tribunais no fim do ano passado, quando o eletricista - agora com 71 anos e que trabalhou entre 1970 e a morte de Picasso nas propriedades do artista na côte D'Azur - levou as obras para pedir que fossem autenticadas.

Para os investigadores, o processamento se justifica pelas "contradições" entre as declarações do casal e os "elementos" apresentados pelos gerentes da herança.

Essas obras não poderiam ter ficado durante quase quatro décadas na propriedade que eles indicaram, além do que não se enquadram com os inúmeros presentes que Picasso e sua família fizeram desde a instalação na côte D'Azur em 1946.

Concretamente, as peças foram confeccionadas pelo artista 40 anos antes, ainda sem assinatura e data, ao contrário do que costumava fazer o artista, sempre assinar e colocar datas nas peças que costumava presentear, revela o vespertino francês.

Outro elemento suspeito é o fato de Jacqueline Picasso ter dado em 1983 a Pierre le Guennec 540 mil francos franceses (equivalentes a 82.317 euros). Não faz sentido que o tivesse feito dez anos após a entrega de um conjunto artístico avaliado em 80 milhões de euros.

A Justiça ampliou suas pesquisas sobre quem foi o último motorista de Picasso, entre os anos 1967 e 1973, Maurice Bresnu, morto em 1991, quem o artista havia presenteado com uma centena de desenhos e pinturas e 26 peças cerâmicas.

Uma parte dessa coleção de Bresnu devia ter sido leiloada em Paris em 9 de dezembro em benefício de seis herdeiros do motorista, mas a venda foi adiada a pedido destes.

Um dos herdeiros é justamente Pierre le Guennec, o que agora tentam esclarecer se entrou a serviço de Picasso por meio de Bresnu, que era seu primo.

Um magistrado citado por "Le Monde" resumiu a situação assinalando que "elementos deste quebra-cabeça começam a encaixar-se, embora a investigação não esteja nem de longe terminada, assim como não está provada a culpa do casal".