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Nova York livre e multicultural nasceu em colônia holandesa, diz historiador

03/06/2011 15h30

José Oliva.

Barcelona, 3 jun (EFE).- A Nova York liberal e multicultural que conhecemos hoje nasceu no século XVII na então colônia holandesa de Nova Amsterdã, disse nesta sexta-feira em Barcelona o jornalista e historiador Russell Shorto, que acaba de publicar em espanhol seu ensaio "Manhattan - The Secret History of New York" (A História Secreta de Nova York, na tradução livre).

Shorto não esconde sua obsessão pelo século XVII: "Naquele século a República Holandesa divulgava a ideia de tolerância e multiculturalismo", e também que esse "foi o começo da modernidade e da vida secular", ressaltou.

Atualmente, Shorto vive em Amsterdã e prepara um livro sobre esta cidade, que está na origem dessas ideias. "Acho que muitas forças que estão em nossas vidas se iniciaram nessa época, e, infelizmente, ideias como a tolerância e a convivência de culturas estão sendo esquecidas", afirmou.

O subtítulo do ensaio faz alusão aos arquivos holandeses, conservados no Arquivo do Estado de Nova York, em Albany, que foram traduzidos recentemente pelo erudito Charles Gehring. São 12 mil maços de papel, com documentação judicial e política do Governo local, que descrevem com detalhe aquela sociedade.

Para o autor, durante os três anos que esteve trabalhando no ensaio, "o mais surpreendente é que em Manhattan ninguém conhece a história que está debaixo de seus pés e poucos sabem que Nova York começou com os holandeses e se chamava Nova Amsterdã", disse.

Shorto pretende combater a tendência americana de olhar sua história a partir da chegada dos ingleses. Quando os holandeses fundam Nova Holanda, uma colônia de cerca de 200 quilômetros situada entre Nova Amsterdã e Albany, "exportaram duas ideias fundamentais: a sociedade multicultural e o comércio livre, que estão na fundação de Manhattan", assegurou.

Curiosamente, quando os ingleses conquistaram o controle da colônia, "mantiveram o mesmo sistema mercantil e a sociedade multicultural", assinalou.

Desse passado holandês, ainda permanecem muitas comunidades na região de Albany e algumas pessoas falam holandês arcaico em casa, e "fisicamente, podemos dizer que o traçado das ruas de Nova Amsterdã coincide praticamente com as ruas do distrito financeiro de Manhattan", lembrou Shorto.

Segundo a lenda, os nativos americanos pagaram US$ 24 aos colonos holandeses em troca de Manhattan em 1626, mas a transação foi muito mais complexa, pois "os nativos, que eram superiores em número frente aos 10 mil colonos, tinham um conceito diferente do significado de venda de terras, pois o concebiam como um tratado de mútua aliança", segundo Shorto.

Na prática, o acordo foi ainda mais complicado, como demonstram os numerosos documentos nos quais os holandeses reclamam de índios voltando periodicamente às suas terras.

O autor admite que teve a tentação de escrever um livro de ficção, mas "teria sido uma pena desperdiçar detalhes reais" e destaca a figura de Peter Stuyvesant, o último diretor-geral holandês da colônia de Novos Países Baixos.

"É um personagem habitualmente reduzido a quase uma caricatura, mas que viveu uma situação histórica difícil, em constante disputa com os diretores da colônia em Amsterdã e contra seus próprios súditos, além de lutar contra índios, suecos e ingleses", declarou Shorto.

Após uma tentativa fracassada de levar o livro ao cinema, Shorto cedeu os direitos a uma produtora que poderá transformar seu ensaio em uma espécie de prequela do filme "Gangues de Nova York".