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Livro retrata Smurfs como personagens "racistas, totalitários e antissemitas"

Visitante observa estátua de um Smurf em exposição em Cannes, na França (5/4/2011)  - Jean-Pierre Amet / Reuters
Visitante observa estátua de um Smurf em exposição em Cannes, na França (5/4/2011) Imagem: Jean-Pierre Amet / Reuters

01/06/2011 14h54

Paris, 1 jun (EFE) - Os pequenos seres azuis com gorros brancos criados pelo ilustrador belga Peyo protagonizam de forma polêmica o livro "Le Petit Livre Bleu" ("O Pequeno Livro Azul", em tradução livre), de Antoine Buéno, lançado nesta quarta-feira na França.

A obra revela uma "utopia totalitária com pitadas stalinista e nazista", que afasta os personagens da visão inocente da ocupada no imaginário popular.

Analisando desde o Papai Smurf, líder da comunidade, até o corporativismo social, a obra apresenta um novo olhar sobre a aldeia fictícia escondida no meio da floresta para defender sua tese.

O personagem Gargamel, cujo nariz, segundo o autor, "lembra uma caricatura antissemita", e seu gato, que se chama Azrael (Cruel, na versão brasileira), foram usados como exemplos de estereótipos, assim como o perfil de beleza "ariano" de Smurfette, a única mulher do povoado.

Para Buéno, o tratamento dado à aparição do Smurf negro em um dos episódios é uma das provas do enaltecimento da pureza de sangue existente nessa sociedade, que conta com um sistema de produção próximo ao coletivismo.

Em declarações publicadas nesta quarta pela revista "Le Nouvel Observateur", o autor revela que sua análise não é inovadora, e contém inclusive relatos anteriores sobre os personagens, como o de um americano que chegou a suspeitar que os Smurfs faziam parte de uma campanha em referência ao comunismo.

Nesse sentido, o nome Smurf teria sido criado pelas iniciais das palavras em inglês Small, Men, Under, Red e Force" (Pequenos Homens sob Forças Vermelhas, em tradução livre).

Para Buéno, Peyo, que nasceu em 1928 em Bruxelas e viveu sob ocupação nazista na Bélgica, não teria tido consciência dessas relações quando batizou os personagens.

"Peyo não era politizado... Acredito que sua obra, como tantas outras, concentra um certo número de estereótipos próprios de uma sociedade e uma época determinadas", assegurou o autor.

Sua intenção não é "desencantar" os fãs dos Smurfs, mas sim "sobrepor à percepção das crianças uma visão diferente da que é proporcionada pelos adultos", algo que considera "intelectualmente saudável".

As aventuras dos Smurfs tiveram continuidade após a morte de Peyo, em 1992, graças a seu filho Thierry Culliford, que concedeu, de acordo com Buéno, uma visão "muito mais pedagógica" e contemporânea à história.