Andrews: Maior conquista de Adrià foi pensar que qualquer coisa é possível
José Oliva.
Barcelona, 31 mai (EFE).- A maior contribuição de Ferran Adrià foi transmitir a ideia de que "qualquer coisa é possível" no mundo da cozinha, afirmou o crítico gastronômico americano Colman Andrews, autor de uma biografia autorizada sobre o chef e proprietário do El Bulli.
Em entrevista à Agência Efe, Andrews disse que a maior contribuição de Adrià "não tem nada a ver com a técnica, mas com o fato de ele ter demonstrado aos demais cozinheiros espanhóis que podiam pensar por si próprios, que era bom conhecer a tradição, mas não precisavam se limitar a ela".
Com esta filosofia, o cozinheiro catalão introduziu nas cozinhas máquinas que até então não eram utilizadas, provou substâncias que, mesmo comestíveis, também não eram aproveitadas pelos cozinheiros, e mudou o aspecto clássico de determinados alimentos.
Na biografia, Andrews relata como o jovem cozinheiro Fernando se tornou o maior chef do mundo, Ferran Adrià; um livro que, explicou nesta terça-feira à Efe, começou a escrever há 30 anos quando chegou à Catalunha.
O primeiro de muitos encontros de ambos aconteceu em Nova York, e neles Andrews afirmou ter aprendido "muito de sua história e sobre seu restaurante". "Mesmo que você não goste de culinária, é uma história interessante", disse.
Andrews não ocultou sua surpresa pela biografia de Adrià. "Não havia nada em sua infância ou adolescência que indicasse que se tornaria o que é. Ferran não vivia na cozinha com sua mãe, nem seu pai tinha um restaurante, e para ele a cozinha era mera subsistência, depois ia jogar futebol", declarou.
Adrià tornou-se o cozinheiro que é por "várias coincidências", porque "assim como trabalhou na cozinha durante os verões, poderia tê-lo feito em uma garagem", ressaltou.
A biografia dedica um dos capítulos à mudança de nome que aconteceu, segundo Andrews, "quando publicou seu primeiro livro e pensou que era tolo ter dois nomes - em catalão e em castelhano - e por isso optou por Ferran, que soava mais exótico no resto do mundo. Uma boa escolha, embora legalmente mantenha o Fernando".
Andrews pensa que "da mesma forma que não se pode comparar Messi, Cruyff e Di Stéfano, também não se pode comparar Adrià, Bocuse e Escoffier", acrescentando que o livro corrigirá muita desinformação que circula em torno de Ferran Adrià - principalmente se é mesmo o pai da gastronomia molecular ou se cozinha com substâncias químicas.
Sobre o fechamento do El Bulli, Andrews acredita que, como diz o próprio Adrià, "não se trata de fechá-lo, mas de evoluir", e sua opção foi "manter o mesmo equipamento, a mesma filosofia e ao invés de ser um restaurante que serve pratos todo dia, fundar um espaço para criar muito, mas servir pouco".
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