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Herói dos quadrinhos Super-Putin faz sucesso na internet

29/05/2011 15h28

Ignacio Ortega.

Moscou, 29 mai (EFE).- Nem o Homem-Aranha nem o Capitão América, o herói das histórias em quadrinhos do momento na Rússia é o Super-Putin, um invencível agente secreto vestido com quimono e acompanhado de seu fiel escudeiro, Medvedev, um especialista em novas tecnologias.

No endereço "superputin.ru", a primeira história dos novos quadrinhos "Uma Pessoa como Todas" tem início com as frases "Primavera de 2011. Um ano antes do fim do mundo" e já registra milhões de acessos em apenas uma semana na rede.

A história em quadrinhos acontece em Moscou e relata bem ao estilo hollywoodiano as peripécias de (Vladimir) Putin (alter ego do primeiro-ministro russo), um agente que combate a ameaça de terroristas da Al Qaeda e zumbis que fazem reivindicações democráticas.

"Tenho de pará-los", diz Putin em um dos 34 quadrinhos da história, no qual aparece rodeado de mal-encarados e barbudos terroristas supostamente afegãos, árabes e, claro, caucasianos.

Em seguida, o super-herói salta em um ônibus em movimento, onde os terroristas colocaram uma bomba, ao estilo "Velocidade Máxima", filme de ação estrelado por Keanu Reeves e Sandra Bullock.

Quando a tensão parecia totalmente fora de controle, eis que surge em cena um gigantesco urso (medved, em russo) que invade o ônibus, causando ainda mais pânico nos passageiros.

Mas não há o que temer, já que o urso é na verdade uma fantasia usada pelo ajudante de Putin, o baixinho (Dmitri) Medvedev (o presidente russo), conhecido nos quadrinhos como "micropessoa", um gênio da tecnologia a quem o agente ordena que desative a bomba.

Então, Medvedev tira da manga um potente dispositivo para tentar desarmar a bomba, mas logo em seguida se depara com uma nova ameaça: zumbis com baldes azuis nas cabeças.

Esta cena é uma clara referência à campanha contra o uso de sirenes por parte dos carros oficiais de Moscou, que, na opinião de alguns grupos, só ajudam a piorar o caótico trânsito da capital russa.

Os zumbis, que tentam tomar o controle do ônibus, exigem, entre outras coisas, a liberdade do magnata russo Mikhail Khodorkovsky, a eleição direta dos governadores e o retorno da imprensa livre, reivindicações feitas constantemente pela oposição na Rússia.

Nesse momento aparece um terceiro personagem, (o vice-primeiro-ministro Igor) Sechin, braço-direito de Putin e um dos políticos mais perseguidos pela oposição, e que na história é uma espécie de homem invisível armado até os dentes.

Finalmente, Medvedev consegue desarmar a bomba e a lança para fora do ônibus dois segundos antes da detonação, mas os heróis se veem completamente rodeados por zumbis e um gigantesco lutador de sumô conhecido como "Trol".

É então que Putin, faixa preta de judô, chama o gigante para enfrentá-lo no tatame, na última cena do primeiro episódio intitulado "Ameaça Oculta".

O combate acontecerá na Praça Vermelha, tendo as muralhas do Kremlin, o centro comercial GUM e a Catedral de São Basílio como fundo, mas isso virá à tona somente no próximo capítulo, que os autores prometem lançar em um mês.

O roteirista Sergei Kalenik diz que criou a história em quadrinhos em apenas duas semanas e que nenhum de seus colaboradores recebeu dinheiro, embora reconheça que está à procura de financiamento para os próximos episódios.

"Nos demos conta de que as eleições estão muito próximas e que só haviam coisas muito chatas sobre o tema na internet", contou.

A história foi lançada pouco depois que Putin deu o pontapé inicial da campanha eleitoral para as eleições parlamentares de dezembro, com a criação de uma Frente Popular espelhada no Partido Comunista da União Soviética.

Embora Medvedev seja o presidente, o primeiro-ministro Putin é considerado por unanimidade o líder nacional russo. No entanto, seu índice de popularidade está em baixa por conta do aumento do desemprego, do custo de vida e da corrupção no país.

Alguns internautas criticaram a história em quadrinhos por mostrar as autoridades como heróis e os opositores como personagens malvados sedentos de sangue.

Segundo a imprensa digital, a história em quadrinhos faz parte de uma campanha de marketing que busca melhorar a imagem dos dirigentes russos na internet, praticamente a última forma de expressão crítica política existente no país.