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Joyce DiDonato, uma grande estrela da ópera na era do Twitter

Joyce DiDonato como Isolier, em Rossini "Le Comte Ory" (21/4/11)  - AP Photo / Richard Drew
Joyce DiDonato como Isolier, em Rossini "Le Comte Ory" (21/4/11) Imagem: AP Photo / Richard Drew

27/05/2011 18h09

Londres - Após uma vida dedicada aos seus adorados Mozart, Händel e Rossini, a meio-soprano americana Joyce DiDonato se rendeu ao Twitter para se comunicar com seus fãs no mundo todo.

"Criei meu site ("Yankeediva") em 2005 e não quis que fosse uma dessas páginas dedicadas apenas para receber críticas das minhas atuações, e sim que tivesse um conteúdo real", explicou a cantora à Agência Efe na Royal Opera House, onde ensaia seu próximo papel em "Cinderela", de Jules Massenet.

"Assim embora eu tenha resistido no início, comecei a fazer um blog, que é uma espécie de diário, e com a internet conecto e interajo com meus fãs", afirma.

A cantora, nascida em 1969 em Kansas City, onde ainda reside, foi nomeada em 2010 'Artista do Ano' pelos leitores da revista britânica Gramophone, além de ganhar o prêmio de melhor disco de recital por seu álbum "Colbran, The Muse" (Virgin/EMI).

Trata-se de uma obra dedicada às maravilhosas árias que o grande compositor italiano Giacchino Rossini compôs para sua esposa, a soprano espanhola Isabella Colbran (1785-1845).

"Eu tinha - acrescenta - uma enorme curiosidade de saber de onde vinha essa música composta por Rossini, esses papéis maravilhosos que criou para Colbran e não queria fazer um disco que reunisse apenas seus grandes sucessos. Eu me interessava em saber como uma cantora foi capaz de inspirar um repertório tão surpreendente".

Joyce acaba de produzir um novo álbum intitulado "Diva/Divo" com árias de ópera de diversos compositores, desde Gluck até Richard Strauss, passando por Mozart, Bellini, Rossini, Berlioz, Gounod e Massenet, que lhe permitiram aproveitar no palco seu grande talento vocal para interpretar personagens de ambos os sexos.

"O que mais me atraiu na ópera foi precisamente sua teatralidade e a possibilidade de interpretar personagens tão diversos, desde jovens fogosos até esposas doentes e assassinas", afirma.

Joyce tem uma voz brilhante que, segundo ela mesmo reconhece, pode soar em um primeiro momento mais feminina, o que a obriga a se concentrar sobretudo nas emoções na hora de interpretar personagens masculinos.

Um claro exemplo pode ser visto em duas das óperas sobre o mesmo tema de diferentes compositores incluídas em "Diva/Divo" - "La Clemenza di Tito", de Gluck e a versão de 30 anos depois, de Mozart.

Na primeira canta Sesto, o jovem romântico apaixonado por Vitellia, manipulado por esta para assassinar Tito a fim de se tornar em imperatriz de Roma.

Na versão de Mozart, Joyce interpreta Vitellia, uma personagem que ela descreve como "manipuladora e vingativa" e que "reúne muitas características associadas normalmente ao jovem", papel que exige em qualquer caso uma amplíssima produção vogal.

Além disso, que exige uma grande capacidade de envolvimento psicológico para dar credibilidade ao personagem. A cantora reconhece que foi uma "experiência fascinante" do ponto de vista da recriação "emocional" da anti-heroína.

Sobre como se preparar para um novo papel, Joyce diz que passa muito tempo estudando a partitura e outros aspectos, como o histórico e o biográfico, já que é da onde vem a parte essencial.

A estrela afirma que há algo de especial nas versões não encenadas porque nada - nem as decorações, nem as luzes - atrapalha a voz na hora de "expressar as emoções".

Sobre "Cinderela", de Jules Massenet, que estrelará em Covent Garden ano dia 5 de julho, a americana diz que se trata de "uma ópera deliciosa, romântica, mas ao mesmo tempo muito divertida e com maravilhosos duetos, como o que faz com o 'Príncipe'".

"A ópera francesa pode ser difícil de vender em algumas ocasiões, mas Massenet, para uma "mezzo", é o mais próximo ao mundo de Puccini, com o lirismo de seu estilo melódico e sua exuberante orquestração", afirma.